As Forças de Defesa e Segurança moçambicanas “começaram a sair da Gorongosa” e os militares que restam “andam sem arma”, disseram hoje habitantes do centro de Moçambique, à agência Lusa. Aos olhos da população, andar sem armas é sinal “de que já não há perigo”.

A desmobilização é a face visível dos avanços nas negociações de paz entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). O Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou na quinta-feira que deu ordem de retirada das posições que os militares ainda ocupavam na região.

Já os tinha mandado sair de outros postos e agora chegou a altura de abandonar um último reduto junto do que classificou ter sido “a principal base da Renamo” durante as hostilidades.

O anúncio foi feito perante oficiais das Forças Armadas moçambicanas e da Renamo, reunidos numa sala do Palácio da Presidência, em Maputo, e todos Nyusi foi cumprimentar, de igual para igual, antes de sair.

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“Não deve haver desconfianças entre moçambicanos”, rematou, ao explicar que os homens ali reunidos iam começar a trabalhar juntos em dois centros de controlo e vigilância das condições de paz, no centro e sul do país.

A confiança constrói-se depois dos confrontos de 2016: Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e o braço armado da Renamo trocaram fogo no centro e norte do país depois da recusa do maior partido da oposição em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

Foi o retorno da violência armada ao país, que ficou igualmente marcada por assassínios políticos de membros da Frelimo e da Renamo e por ataques a alvos civis como autocarros, comboios de mercadorias, entre outros – vitimando um número desconhecido de pessoas, afundando a economia do centro do país e provocando uma crise de refugiados.

Quem teve esta guerra à porta, acalenta agora esperança no futuro ao ver a saída dos militares, como disse um comerciante local à agência Lusa.

“Não há a avalanche de carros como foi aquando da entrada, mas o número de tropas diminui significativamente desde a trégua”, iniciada em dezembro e desde então prolongada pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama.

Os poucos militares “que ainda estão por aqui, circulam sem armas, como se estivessem avisando que já não há perigo”, acrescentou.

Fonte militar confirmou que as forças governamentais “estão a sair daqueles pontos em que controlavam acessos e movimentos na serra [da Gorongosa]”.

Agora até é possível contar quantos homens fardados estão em cada sítio.

Numa primeira posição “só ficaram alguns homens da guarda-fronteira e da UIR [Unidade de Intervenção Rápida]. Em Mussicazi ficaram dois e no cruzamento para Casa Banana também ficaram muito poucos e não andam com armas”, relatou um residente que hoje passou por aquelas posições militares junto à N1, a principal estrada de Moçambique.

Próximo de Nhamapadza, os homens também se contam pelos dedos das mãos, pelo que “as coisas estão muito tranquilas”, referiu.

Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama têm feito declarações públicas em que se mostram confiantes num anúncio de paz efetiva após o período de tréguas declarado pelo líder da Renamo e que termina na quinta-feira, 04 de maio.

Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança e o desarmamento do braço armado da oposição e sua reintegração na vida civil.

Sejam quais for os consensos, a mobilização pela causa da paz tem de ser “massiva”, disse à Lusa Fernando Faustino, secretário-geral da Associação dos Combatentes de Luta de Libertação Nacional (ACCLIN), à margem de um encontro do organismo, na sexta-feira, em Maputo.

“Todos os setores [têm de estar envolvidos], professores, académicos, camponeses, operários, estudantes, todos nós temos que estar nesta caminhada”, concluiu.