Não foi o único encontro épico promovido pelo Festival de Cinema de Tribeca, em Nova Iorque, organizado pela produtora de Robert De Niro (Vito Corleone em O Padrinho II, de 1974, 9 em 10 no ranking do IMDB) — Quentin Tarantino e o elenco de Cães Danados (Reservoir Dogs no original, 1992, 8,3 no IMDB) também se juntou em palco.

Ainda assim, e por acontecer 45 anos depois da estreia do primeiro filme da saga adaptada do romance de Mario Puzo (O Padrinho, 1972, 9,2 pontos), a reunião da equipa de O Padrinho teve outro encanto.

Os fãs que conseguiram comprar bilhete para o evento, no Radio City Music Hall, este sábado, tiveram direito ao visionamento de ambos os filmes (2h55 mais 3h22) e, a parte mais aguardada, a assistir à conversa entre a equipa. Em palco, além de Robert De Niro, estiveram o realizador Francis Ford Coppola, Al Pacino, James Caan, Talia Shire, Robert Duvall e Diane Keaton. Que é como quem diz, Michael, Sonny e Connie Corleone, Tom Hagen e Kay Adams (mais tarde Corleone).

Ao todo, o evento durou nove horas. A conversa, moderada pelo realizador Taylor Hackford (Oficial e Cavalheiro, Ray e Advogado do Diabo), foi sobre as dificuldades sentidas por realizador e atores durante as rodagens dos filmes. Ou mesmo antes disso: confessou Coppola, o que não faltaram foram lombas no caminho, ou não tivessem os estúdios da Paramount embarcado no projeto à espera de encaixar uma pipa de massa à conta de uma transformação low-cost em película do bestseller italiano.

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Se fosse hoje, nem teria tido luz-verde para avançar. O primeiro Padrinho custou 6,5 milhões de dólares e o segundo custou uns 11 ou 12 milhões. Só um grande estúdio poderia pagar valores como esses, convertidos para números de hoje, mas o projeto nunca chegaria a receber um OK. Nada recebe luz-verde a não ser que seja um filme a partir do qual eles possam fazer uma série deles, ou um livro de banda-desenhada da Marvel”, criticou o realizador, dono de seis Óscares.

Al Pacino, que conseguiu o papel de protagonista após uma série de audições (“Uma vez liguei-lhe depois de já lhe ter feito seis testes. A namorada veio ao telefone e eu disse-lhe que só precisava que ele fosse fazer mais um. Ela respondeu-me, ‘O que é que você lhe está a fazer? Está a torturá-lo!’ Gritou comigo e repreendeu-me”, contou Coppola), revelou uma conversa que teve há 45 anos com Diane Keaton.

Depois de ter passado as semanas de composição de personagem a deambular por Manhattan, enquanto se torturava mentalmente — “Queria tentar perceber onde podia levar o meu papel” –, deu por si a meio das filmagens a achar que estava metido num poço sem fundo.

A Paramount não estava satisfeita com Coppola e aparentemente queria despachá-lo do projeto, “A coisa toda tinha um ar surreal”, disse este sábado. Imbuído do espírito, uma noite, enquanto bebia uns copos com Keaton, depois de gravarem uma cena, Pacino diz que lhe disse: “Para onde é que vamos depois disto? Estamos acabados. É o fim. Este é o pior filme alguma vez feito“.

Mais surpreendente do que o elenco achar que O Padrinho podia ser um mau filme? Só mesmo saber que, se dependesse (apenas) da Paramount, Don Vito Corleone tinha sido outro ator que não Marlon Brando.

A dada altura, contou o realizador, os executivos chegaram mesmo a proibi-lo de pronunciar o nome do ator, que viria a ganhar o Óscar de melhor ator pelo papel.

“Depois disso quase desmaiei. Se não podia sequer falar sobre ele, o que é que eu ia fazer? O Fred Roos, que esteve envolvido no processo todo de casting, disse, ‘Tudo bem, se o Marlon fizer um teste de ecrã, se o fizer de graça, e se fizer um seguro de um milhão de dólares a garantir que não causa problemas durante a produção, podes tê-lo. E eu disse, ‘Aceito’.”