Quanto vai custar o plano de reestruturação da Caixa Geral de Depósitos? Apesar de ser apresentado como a solução para dar a volta aos resultados e voltar a pôr o banco do Estado a dar lucros, o plano estratégico acordado com a Comissão Europeia e que acompanha a recapitalização da Caixa vai ter, no curto prazo, custos que vão pesar no balanço da instituição. No entanto, a administração do banco já liderada por Paulo Macedo, que assina as contas do ano passado, ainda não regista um valor global para os custos com a reestruturação. Este é um dos pontos destacado na ênfase que a auditora Deloitte e a sociedade de revisores oficiais de contas fazem às contas de 2016 e onde se descrevem os planos de recapitalização e reestruturação do banco público.

A única operação que surge já com um registo de imparidade de 18 milhões de euros (perda reconhecida) nas contas do ano passado é a participação no Mercantile Bank Holdings Limited, instituição na África do Sul. Esta participação de 100% foi classificada como um ativo não corrente detido para venda e unidades operacionais descontinuadas, refere o relatório da auditoria das contas consolidadas, que foi divulgado esta semana.

Neste documento, a Deloitte nota que o plano de recapitalização da Caixa inclui um plano estratégico a implementar até 2020, o qual prevê um conjunto de medidas com o objetivo de promover a sua rentabilidade no longo prazo. “Estas medidas incluem, entre outros aspetos, reduções no número de empregados e no número de balcões e a alienação ou encerramento de um conjunto de unidades do grupo”.

No entanto, e com a exceção do banco sul-africano, o “órgão de gestão da Caixa considerou que não se encontram reunidos os requisitos previstos nas IFRS (normas de contabilidade internacionais) para que fossem registados nas demonstrações financeiras consolidadas de 31 de dezembro de 2016 os outros custos estimados relacionados com a implementação do plano estratégico.”

Custos com rescisões e desinvestimento internacional podem chegar a 700 milhões

As contas do ano passado reconhecem as perdas na carteira de créditos e ativos, que estiveram associadas à recapitalização do banco, e que levaram à constituição de imparidades de 3.017 milhões de euros e ao anúncio de prejuízos históricos de 1.860 milhões de euros. Mas deixam de fora o grosso dos custos da reestruturação cujo acordo final só veio a ser aprovado pela Comissão Europeia já este ano. A diminuição de recursos humanos e o abandono de operações no estrangeiro podem representar custos superiores a 700 milhões de euros, segundo números que constam da documentação associada ao plano de reestruturação, e que foi consultada pelo Observador.

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O plano inicialmente apresentado em Bruxelas apresentava uma estimativa de custos para a redução de 2.200 a 2.500 trabalhadores, da ordem dos 430 milhões de euros até 2020, com os encargos mais altos a serem assumidos nos anos de 2017 (160 milhões) e 2018 (167 milhões de euros). Esta redução será conduzida via pré-reformas e rescisões voluntárias. A médio prazo, o plano antecipa poupanças nos custos com pessoal de 514 milhões de euros em 2015 para 420 milhões em 2020.

Outro capítulo que terá custos antes de economias ou ganhos é o desinvestimento na área internacional. Numa das versões do plano, a que o Observador teve acesso, estimava que a venda ou fecho de operações internacionais permitiria libertar cerca de 780 milhões de euros em capital. No entanto, o impacto líquido desse desinvestimento seria bastante inferior — da ordem dos 475 milhões de euros — após o reconhecimento de perdas nestas participações e custos de reestruturação, que seriam assim da ordem dos 300 milhões de euros.

O acordo prevê que a Caixa venda as operações nos bancos Caixa Geral (Espanha), Mercantile (África do Sul) — o único ativo com imparidade já reconhecida — Caixa Geral (Brasil) e a sucursal do Luxemburgo até ao fim de 2017. Até ao final deste ano, o caderno de encargos na área internacional prevê que o banco tome passos para abandonar a sua posição (cedendo a terceiros ou fechando) nas sucursais de Espanha, França, no Reino Unido, e unidades em paraísos fiscais de Cayman, Zuhai e Macau. A Caixa poderá manter os bancos em Angola, Moçambique e o no BNU de Macau.

A atividade internacional rendeu no ano passado lucros de 55,7 milhões de euros, com a ajuda do contributo do BNU de Macau (que é para manter) e da sucursal de França (que poderá ser incorporada na casa-mãe). Os bancos em Espanha e África do Sul contribuíram com 25 milhões e 10,8 milhões de euros, respetivamente.

O desfecho do desinvestimento na área internacional será um dos dossiês da reestruturação com um resultado mais imprevisível. Mas também o encerramento de balcões em Portugal se estará a revelar um processo mais complexo e passível de alterações, face à contestação local.

Manifestantes voltam a barricar-se na Caixa Geral de Depósitos de Almeida