Não há projetores, slides, comando para os passar ou um púlpito. Há uma mesa, um sofá, um sumo de laranja, uns pés de extraterrestre, um orador e uma plateia desassossegada com muita imaginação. Estes são os elementos necessários para que a primeira conferência para miúdos curiosos, do Teatro Maria Matos, aconteça e dê resposta à questão: o que é a utopia?

Explicar a crianças que este conceito se traduz numa ideia de civilização ideal, imaginária, ou um sonho de algo que se gostaria muito que acontecesse; e que um dia um escritor, Thomas More, inventou uma ilha chamada utopia e escreveu um livro que é um manifesto para um mundo melhor, não é assim tão simples.

Mas é simples que a explicação para miúdos curiosos se quer.

Por isso, André Leonor, professor de Psicologia e Filosofia, com o apoio dramatúrgico de Maria Gil, vai transportar os mini conferencistas a partir dos oito anos por uma viagem pela imaginação, para desconstruir e compreender a utopia.

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É com o filho de seis anos que André aprende a tornar conceitos complicados em explicações capazes de deixar qualquer criança satisfeita com a resposta. Isto porque, como explica ao Observador, na idade dos porquês não deve haver tabus:

“Os tabus existem na cabeça dos adultos. As crianças são mesmo muito boas a descomplicar: o que sinto com o meu filho é que se não lhe explico algo, ele acaba por criar um fantasma, um género de explicação alternativa. Que, na verdade, pode ser pior do que se formos diretos às perguntas difíceis”. É por isso que tenta fazer como eles, descomplicar, para depois “lhes dar os conceitos, sem medos e sem achar que há coisas que eles não podem compreender e são proibidas”.

E é assim, de forma descomplicada e próxima do público, que vai funcionar esta mini-conferência, ou melhor, esta “não-conferência”, como lhe chama. Através de acessórios e de personagens reais ou imaginários, aproximam-se conceitos tidos como complicados de realidades próximas das crianças.

Por exemplo, durante a conferência, na T-shirt do orador André vai estar ilustrada uma das cenas do filme “Alice no País das Maravilhas”, o momento em que Alice se encontra com o gato de Cheshire:

Alice: “Sabes qual o caminho que devo escolher para sair daqui?”
Gato: “Isso depende do sítio onde queres chegar.”
Alice: “Não me importo muito para onde vou, quero mesmo é sair daqui…”
Gato: “Então não importa o caminho que escolhas.”

(Getty Images)

É através deste diálogo que o orador pretende transmitir a ideia de que “a utopia é um sonho especial que orienta e ajuda a escolher um caminho” e que “esta ajuda para se saber para onde se quer ir chama-se utopia”.

Além deste momento, vão ser expostas ao público situações que o orador gostava que acontecessem; e outras que os que assistem sonham e gostavam que acontecessem. Haverá também espaço para recordar pessoas que um dia imaginaram objetos ou eventos que pensavam ser impossíveis, como o paraquedas que um dia Leonardo Da Vinci esboçou; e espaço para que os mini conferencistas participem e interajam com os elementos da conferência.

“A minha ideia é que se chegue ao conceito quase sem se dar conta. O objetivo é conseguir que compreendam que todos nós somos capazes de imaginar lugares e também “não lugares” e que por isso todos conseguimos criar utopias que podem tornar o mundo melhor”. Ao mesmo tempo, o professor que é orador naquele dia, pretende transmitir a importância de partilhar as utopias, porque “se partilharmos com o outro aquilo que idealizamos, sem vergonha, a outra pessoa pode ajudar a tornar a situação mais próxima da realidade”, reforça André Leonor.

Esta iniciativa faz parte do ciclo de debates, workshops, performances e danças, para abordar o tema “Utopias”, do Teatro Maria Matos. Com esta mini-conferência, pretende-se agora levar o conceito às crianças. Esta é a primeira mini-conferência. A vontade de quem a organiza é de a continuar, com outros temas e conceitos a divulgar.

“Procuraremos apresentar o mundo e os seus discursos ao público mais jovem. Conceitos complexos e assuntos difíceis com que nos cruzamos no quotidiano serão habilmente desconstruídos. Tudo isto, como sugere Marcel Proust, porque queremos que a grande viagem da descoberta nos leve a ver antigas e novas paisagens com um olhar curioso. E, assim, velhas interrogações se tornam novas”, explica a organização.

O quê: Mini-conferência “O que é a utopia?”
Onde: Teatro Maria Matos
Quando: De 4 a 7 de maio; durante a semana às 10h, aos sábados às 16h30 e aos domingos às 11h e às 16h30
Duração: 30 minutos
Preço: 2€