Dizem que o nosso prato deve parecer um arco-íris com tonalidades de verde e roxo, passando pelo vermelho e laranja, mas atualmente é cada vez mais monocromático. As cores ficam pelas embalagens dos processados que nos fazem acreditar que seguimos uma alimentação saudável e equilibrada. “Só a cor dos alimentos proporciona estímulos visuais, desencadeia o início de todo o processo digestivo, influencia os estados emocionais, fornece nutrientes específicos e ajuda a tratar e fortalecer os órgãos correspondentes”, diz Vânia Ribeiro em entrevista ao Observador. A autora do blog Made by Choices acaba de lançar o seu primeiro livro As 5 Cores da Cozinha Saudável onde defende que as cores no prato, associadas a cada alimento, têm benefícios no nosso organismo a curto e longo prazo.

A ideia de comer com as cores surge muito porque nesta época seguimos uma alimentação muito monocromática e só comemos proteína — carne ou peixe — e hidratos de carbono com poucos vegetais. Acredito numa alimentação colorida e variada com ingredientes naturais, cereais integrais, gorduras saudáveis, leguminosas, frutas e vegetais, pouco ou nada processados.”

E porque é que as cores são tão importantes? “As cores transmitem estímulos, vibrações e informações importantes acerca do alimento. Cada cor ou pigmento de um alimento é dado pela presença de fitonutrientes que desempenham funções importantes no nosso organismo, tal como a proteção, defesa, regeneração e eliminação de toxinas”, explica a autora. A pensar nisso, a obra está dividida em cinco grupos de cores. “Todas elas representam as cores naturais dos alimentos que temos disponíveis na natureza. Cada cor tem também uma correlação com um órgão do nosso corpo e é maravilhoso perceber que a natureza não faz nada ao acaso”, acrescenta.

Segundo Vânia Ribeiro, não é por mero acaso que o vermelho, por exemplo, está associado ao coração, ao amor, à preocupação, ao fogo, aos alimentos típicos do verão e quentes. Nesta época do ano a natureza fornece alimentos ricos nesta cor — como morangos, frutos vermelhos, pimentos e tomate — e esses alimentos têm características que ajudam a proteger e fortalecer todo o sistema cardiovascular. “No outono e inverno predominam as cores amarela e laranja. Nesta altura os alimentos mais abundantes são as abóboras, os citrinos como a laranja, a tangerina e o limão. Frutas ricas em vitaminas e fitonutrientes que ajudam a prevenir constipações e reforçam o sistema imunitário.”

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O livro foi publicado pela Lua de Papel e custa 17,7€.

Conheça a lista de frutas e vegetais, organizados em função das cores, que vão proteger, defender, regenerar e eliminar as toxinas do nosso organismo. Ora aponte:

Verde

A cor verde, associada ao fígado e à desintoxicação, está presente em frutas como o abacate, kiwi, maçã e vegetais como alface, espinafres, ervilhas, pepino e rúcula. Segundo Vânia Ribeiro, o seu consumo diário beneficia a depuração do organismo através da eliminação de metais pesados pelas fezes, regulação do pH, oxigenação e renovação das células. “Devido à presença de fitonutrientes antioxidantes como a clorofila, luteína, zeaxantina e saponinas que protegem e evitam a multiplicação de células cancerígenas beneficia o sistema imunitário e a saúde mental e celular“, diz a naturopata. O verde ainda fortalece os ossos, dentes e ajuda na produção de glóbulos vermelhos. “Devido à presença da luteína e zeaxantina, ajuda também a reparar e a proteger os tecidos oculares”.

As frutas verdes beneficiam a depuração do organismo, o sistema imunitário, a saúde mental, óssea e ocular. (foto. Getty Images/iStock)

Vermelho

“A cor vermelha está ligada ao órgão coração e à proteção cardiovascular. Por isso, muitas vezes associamos o vermelho ao amor e ao coração”, começa Vânia Ribeiro por escrever. O consumo de beterraba, tomate, morangos e framboesas auxilia assim a regulação dos níveis de colesterol e agregação plaquetária. “Devido à presença de fitonutrientes antioxidantes como as antocianinas e o licopeno que têm ação anti-inflamatória, combate os radicais livres e previne a degeneração celular (cancro)”, explica a autora. Esta coloração ainda protege a pele devido aos compostos antioxidantes que protegem os raios ultravioletas e radicais livres.

A coloração presente nos vegetais e frutas de cor vermelha acontece devido a um pigmento carotenóide chamado licopeno. (foto: Getty Images/Observador)

Laranja

As cores laranja e amarela estão associados aos órgãos baço e pâncreas, estômago e pele. De acordo com Vânia Ribeiro, o consumo de abóbora, batata-doce, cenoura, milho, ananás e banana beneficia o sistema imunitário devido à presença de vitamina C, vitamina B3 e betacaroteno que, no organismo, é convertido em vitamina A (são substâncias que previnem o processo oxidativo celular e aumentam a resistência e produção de anticorpos). “As vitaminas e fitonutrientes presentes em alimentos com esta coloração ajudam a reduzir o colesterol, melhoram a circulação sanguínea e regulam os níveis de açúcar no sangue”, adianta a especialista. “Além disso, protege e auxilia a regeneração da pele, membranas e toda a região ocular.

As cenouras, laranjas, nêsperas, papaias, pêssegos e tangerinas beneficiam o sistema imunitário. (foto: Getty Images/iStock)

Castanho

“Frutas e vegetais de tonalidade castanha e também branca são ricos em quercetina e alcina. O castanho e o branco estão associados ao pulmão e intestino grosso e também à imunidade“, diz Vânia Ribeiro ao Observador. Isto é: couve-flor, funcho, espargos brancos, pera, cogumelos, batata branca, amêndoas e nabo. “Ambos beneficiam o sistema imunitário devido à presença de quercetina, um flavonóide presente sobretudo no alho, cebola, cebolinha, e que tem propriedades anti-inflamatórias, antivirais e antialérgicas”, afirma a autora. Mas não só: devido à presença de fibras e compostos pré-bióticos e anti-inflamatórios que previnem úlceras, auxiliam na digestão e na saúde intestinal e devido à presença de vitaminas do completo B e E, antoxantinas e alcina, ajudam a baixar a pressão arterial, o colesterol e reduzem o risco de doenças cardíacas.

Devido à presença de alcina, os vegetais castanhos ajudam a baixar a pressão arterial, o colesterol e reduzem o risco de doenças cardíacas. (foto: Getty Images/iStock)

Roxo

Vegetais como alcachofra, cebola roxa e beringela, e frutas como amoras, mirtilos e uva preta são ricos em fitonutrientes antioxidantes como o reverastrol, as antiocianinas e os taninos. “As cores roxa e azul estão associadas aos órgãos rim e bexiga e também à longevidade. Em primeiro lugar, a presença da antocianina regula o armazenamento da gordura, ajuda a reduzir o colesterol e a pressão arterial”, conclui Vânia Ribeiro. Já o resveratrol e as antocianinas têm propriedades antioxidantes, que inibem o processo oxidativo das células, melhoram o seu funcionamento e previnem o envelhecimento prematuro. No que toca ao sistema excretor e urinário, graças à sua riqueza em flavonóides, que têm propriedades antibióticas, estes beneficiam a diurese e auxiliam o bom funcionamento dos rins e bexiga.

A coloração presente nas frutas roxas e azuis ocorre devido à presença de substâncias carotenóides chamadas antocianinas. (foto: Getty Images/iStock)