Mariana Mortágua está confiante de que os bons indicadores económicos se vão refletir numa maior margem para discutir o Orçamento do Estado para 2018 (OE2018). E, a confirmar-se esse cenário, a porta-voz do Bloco de Esquerda para as questões económicas acredita que é possível aumentar os escalões de IRS. Mas essa não é a única exigência que o seu partido estará a preparar.

Em entrevista à jornalista Maria Flor Pedroso na Antena 1 — que passa hoje às 10h00 –, Mariana Mortágua dá o salário mínimo como exemplo de um dos temas que irão marcar as negociações para o OE2018: não aceita a sua subida faseada, como o Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, deu a entender também em entrevista à Antena 1 há duas semanas. “É preciso garantir que esse aumento vem em cada Janeiro, em 2018 e 2019, e nem quero ponderar que não seja assim”, defende a bloquista.

Em relação ao IRS, Mortágua não avança com um valor global de redução – “imagine que depois conseguia mais”, alega. Mas, para já, o partido parece disposto a aceitar a ideia de sete escalões (atualmente são cinco), em vez de exigir o anterior modelo com oito escalões, dando assim a entender que essa poderá ser a proposta bloquista para a discussão do OE2018.

Ainda há muito no acordo [com o PS] para ser cumprido. Não há apoios cegos.”

A vice-presidente do grupo parlamentar do Bloco considera que “ainda há muito no acordo [com o PS] para ser cumprido”, mas não pensa que o facto de se avançar mais no tempo facilite as coisas — e deixa um aviso: “Não há apoios cegos”. Deixa ainda no ar o alerta de que as questões laborais e financeiras são as de maior choque com o Governo: “Há ainda, e haverá sempre, provavelmente, enormes divergências com o PS”.

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Sem querer colar-se às críticas que o PSD fez esta quarta-feira à administração de Paulo Macedo sobre o encerramento da filial do banco público em Almeida, Mariana Mortágua aproveita também para deixar mais umas farpas ao principal partido da oposição: “Se o PSD estivesse no Governo faria pior, porque a Caixa seria privatizada”, mas “é claro que aquele balcão não deve encerrar se as pessoas pensam que ele é importante naquela comunidade”, defende. E alerta para os riscos de uma nova crise financeira para a qual a Europa está completamente desprotegida.

Não se sabe de onde, mas haverá nova crise financeira, tão certo quanto a Economia existir. E a Europa não se está a proteger da próxima crise financeira”, alertou a propósito da banca.

Na mesma entrevista, Mariana Mortágua não aceita a ideia de que o Bloco tenha mudado de posição sobre a reestruturação, especialmente depois do relatório do Grupo de Trabalho com o PS, e garante que há aproximação de posições, uma proposta resultante de uma negociação política.

Sobre as eleições presidenciais em França, que se realizam no próximo domingo, dia 7, a vice-presidente da bancada parlamentar do Bloco diz que não pretende colocar-se na situação de escolher, mas é taxativa: “Não sou francesa, não tenho de decidir. Mas quero que Le Pen perca. Respeito e confio muito em quem já fez o seu voto anti-fascista (em Mélenchon)”. Acusa ainda Emmanuel Macron, o candidato que já foi ministro do ainda Presidente, François Hollande, de não fazer qualquer aproximação à esquerda. As suas políticas resultam em “Le Pens e Trumps”, acusou.

Não sou francesa, não tenho de decidir, mas quero que Le Pen perca.”

A conversa com Mariana Mortágua tocou ainda o tema dos precários, em especial, na administração local – uma situação que considera “preocupante”. E, por isso, desafia as diferentes forças políticas em Lisboa a assumir como tencionam tratar os trabalhadores precários que trabalham na câmara da capital.

“Ainda para mais em ano de Autárquicas, cada força política (deve assumir) o que quer fazer, e Lisboa devia dar o exemplo já que faz gala na sua boa situação financeira.” A deputada bloquista considera que os trabalhadores precários “são pessoas que têm a vida adiada há demasiados anos”. E defende ainda que é preciso “trazer o Governo para as questões laborais e financeiras”.