As autoridades angolanas informaram esta quarta-feira que o país tem à volta de 19.000 crianças com VIH/Sida, entre um total de cerca de 300.000 pessoas infetadas pelo vírus, mas afirmando que Angola “não tem rotura de antirretrovirais” para tratamento.

A informação foi transmitida esta quarta-feira à imprensa, em Luanda, pela diretora do Instituto Nacional de Luta contra a Sida de Angola, Lúcia Furtado, à margem de um seminário para organizações da sociedade civil em Angola, organizado pela Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida (Anaso).

A prevalência estimada nos últimos anos é de 2,1%, estima-se que cerca de 300.000 pessoas estejam a viver com o VIH entre homens, mulheres e crianças. Nós estimamos que cerca de 19.000 crianças estejam infetadas com VIH a nível do país”, adiantou, aludindo nomeadamente a um estudo a grávidas em consulta pré-natal.

Em março, o secretário executivo da Anaso, António Coelho, disse à Lusa que Angola tem cerca de 30.000 crianças infetadas pela doença e que dessas apenas 3.000 estão a ser acompanhadas e fazem terapia, sendo que a epidemia afetou já meio milhão de pessoas. Deste total, apenas 215.000 estarão a ser acompanhadas, mas apenas 78.000 “estão a beneficiar de terapia antirretroviral”, de acordo com António Coelho.

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Questionada sobre os números da Anaso, Lúcia Furtado, disse desconhecer a fonte utilizada por aquela organização não-governamental, mas admitiu que a instituição pública que dirige ainda trabalha com dados provisórios e estimativas.

Nós, infelizmente, ainda trabalhamos com estimativa. Temos problemas dos dados e para ter uma estimativa que é calculada graças a um programa, temos que ter os dados reais que são introduzidos nesse programa e aí dá-nos a estimativa”, sustentou.

A diretora do Instituto Angolano de Luta contra a Sida informou também que em Angola não há nenhuma rotura de antirretrovirais admitindo no entanto problemas pontuais nas unidades hospitalares, mas sublinhando ser um “problema de gestão a vários níveis” e que já foi identificado.

Como sabe é uma cadeia de abastecimento, não ficamos felizes por ter antirretrovirais no armazém central quando a população na unidade de saúde as vezes tem falta de um ou outro antirretroviral. Então, estamos a trabalhar sobre isso e já foram identificados alguns constrangimentos de vária ordem e temos estado a trabalhar para que se resolvam ou minimizem esses problemas”, explicou.

Em relação as alegadas cobranças de antirretrovirais e da medição da carga viral em algumas unidades hospitalares públicas, também denunciadas recentemente pela Anaso, a responsável disse desconhecer, aguardando que os alegados casos sejam denunciados, tendo em conta que os referidos serviços são de distribuição gratuita.

São gratuitos e nenhum hospital público ou privado tem o direito de cobrar o que seja para ceder antirretroviral ou medir a carga viral de uma pessoa portadora do VIH. Por isso aguardamos por denúncias fundamentadas, para podermos pôr cobro a situação”, rematou.

Ainda de acordo com Lúcia Furtado, Angola pretende alcançar até 2020 a denominada meta 90/90/90, equivalente a 90% de testes na população, 90% de tratamento das pessoas com o vírus e 90% de supervisão viral.