À entrada do famoso mercado de Xiquelene, Albertina Felisberto, 48 anos, conta “as poucas moedas” que tem na carteira para comprar pão, lamentando à Lusa mais uma subida de preço que vai “apertar a vida dos moçambicanos”.

Um mês depois do fim dos subsídios estatais à produção de pão, em Maputo, o preço do pão passou de sete meticais (0,10 cêntimos) para dez meticais (0,14 cêntimos).

Este aumento levou as famílias mais pobres a recorrerem a outras formas de fazer o pequeno-almoço, para muitos, a única refeição do dia, como é o caso de Albertina Felisberto.

“Com o pão a este preço e com as coisas complicadas como estão, para o pequeno-almoço terei de recorrer à mandioca, apesar de também ser cara. E agora o pequeno-almoço será a nossa única refeição durante o dia”, descreveu.

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Albertina Felisberto vive com os seus três filhos no bairro periférico da Polana Caniço, mesmo à entrada do mercado de Xiquelene. Esta moçambicana é modista há mais de dez anos e sobrevive do que “a profissão pode dar”.

Agora, com a subida do preço de um produto básico como pão, as coisas tornam-se complicadas, na medida em que é também da costura que sai o dinheiro para os meninos irem à escola. “Somos quatro pessoas em minha casa. O que quer dizer que eu precisaria de pelo menos 30 meticais (0,43 cêntimos) por dia só para comprar pelo menos três pães”.

A mesma tendência de subida de preço foi verificada noutros pontos da capital. Este agravamento do preço do pão também tem estado a afetar os vendedores, que reclamam por causa da diminuição de clientes desde que os novos preços foram instituídos.

“Até às 13 horas, em dias normais, já tinha quase metade da caixa vendida. Agora, desde o novo preço, eu levo dois dias para vender metade de uma caixa. As pessoas não estão a comprar”, lamentou Mário Altino, um jovem comerciante informal de pão do mercado de Laulane, localizado também na periferia de Maputo.

Mário Altino contou que, devido à falta de clientes, nos últimos dias tem pensado vender o seu produto porta à porta, uma prática “bastante esgotante”. “É preciso outra logística para vender assim. Mas terei de fazer isso, tenho uma filha pequena e uma esposa que dependem disto”, avançou.

Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Moçambicana de Panificadores, Vítor Miguel, disse que o agravamento do preço do pão era inevitável, mas ainda é prematuro tirar conclusões.

“Estamos a avaliar, a medida foi tomada recentemente. Precisamos de mais tempo para ver o que realmente vai sair disto”, comentou Vítor Miguel.

O Governo moçambicano decidiu introduzir subsídios ao pão e ao combustível, na sequência de manifestações violentas contra o custo de vida em 2010.

A 31 de março, o executivo anunciou o fim do apoio às moageiras, alegando que o subsídio não gerou grande impacto no preço ao consumidor, uma vez que as padarias subvencionadas vendiam o pão a um preço muito próximo das que não recebiam apoio – entre um metical e 50 centavos de diferença.

O fim do subsídio foi também justificado com a recuperação do metical face ao dólar, a baixa do preço do trigo no mercado internacional e devido ao peso do subsídio para o tesouro público.