O Presidente da República timorense condecora na sexta-feira, postumamente, o ex-administrador da diocese de Díli Martinho da Costa Lopes e nove membros do clero mortos durante a onda de violência depois do referendo da independência em 1999.

“É agora chegado o momento de o povo timorense reconhecer, com toda a gratidão, a coragem e o sacrifício dedicado por Dom Martinho da Costa Lopes em todos os momentos da luta”, refere-se no decreto de condecoração do bispo timorense.

Taur Matan Ruak atribui a Martinho da Costa Lopes o Colar da Ordem de Timor-Leste recordando-o como “um defensor acérrimo do povo timorense” que assumiu “publicamente como sua missão a defesa do povo marginalizado e sofredor de Timor-Leste”.

“Martinho da Costa Lopes viveu intensa e profundamente o drama do seu povo, o que poderia constatar pessoalmente quando visitava as várias regiões de Timor-Leste, onde se pôde inteirar da situação em que vivia a população”, refere-se no decreto do Presidente.

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O texto recorda que em 1981, já administrador apostólico de Díli – cargo para que foi nomeado em 1977 – Martinho da Costa Lopes se apresentou “pessoalmente perante o então Presidente indonésio, Suharto, tendo feito um conjunto de exigências para que fosse feita uma investigação séria e profunda sobre o caso de Timor-Leste”, momento a partir do qual começou a ser perseguido.

A 13 de outubro do mesmo ano, na procissão em honra de N. Senhora de Fátima, “exigiu das autoridades indonésias o respeito dos direitos humanos de todos os timorenses” denunciando “vigorosamente o assassínio de cerca de 500 timorenses pelas forças ocupantes”.

Estas e outras intervenções levaram ao seu afastamento do cargo, tendo acabado por se retirar para Portugal onde continuou, até à sua morte, em 1991, a criticar publicamente a brutalidade da ocupação indonésia.

São ainda condecorados com a Medalha da Ordem de Timor-Leste “a coletividade dos membros do clero que foi assassinada durante o período de ‘setembro negro’ de 1999, com referência concreta para os padres Karl Albrecht Karim, Hilário Madeira, Francisco Soares e Tarcisius Dewanto, as madres Erminia Cazzaniga e Celeste de Carvalho, o diácono Jacinto Xavier e os religiosos Valério da Conceição e Fernando dos Santos.

Taur Matan Ruak recorda o papel “indiscutível desempenhado pelos membros da Igreja Católica “durante os anos mais difíceis da luta” contra a ocupação indonésia, em que as “casas ou os edifícios usados pelos membros do clero tornaram-se espaço de refúgio de muitos timorenses”.

“Os membros da Igreja Católica em Timor-Leste sabiam assumir, de forma digna, o sofrimento de todo o povo, colocando-se ao seu lado na defesa dos seus mais elementares direitos. Nos momentos mais difíceis, eles não fraquejaram e não abdicaram na promoção de valores universais, arriscando tantas vezes as suas próprias vidas. Na verdade, eles foram acolhedores dos sofrimentos e das tristezas do povo”, refere-se no decreto.

No texto recorda-se que vários membros do clero foram assassinados em vários pontos de Timor-Leste durante a violência que se seguiu ao anúncio da vitória da independência no referendo de 30 de agosto.

“Eles podiam ter optado por procurar espaços seguros para não serem assassinados. Eles preferiram dedicar as suas próprias vidas para ajudarem outras pessoas que necessitaram de apoio e proteção deles. Por isso, fizeram todos os esforços possíveis para acomodarem, ajudarem e protegerem outras pessoas”, refere Taur Matan Ruak.

A Ordem de Timor-Leste reconhece “nacionais e estrangeiros, que na sua atividade profissional, social ou mesmo num ato espontâneo de heroicidade ou altruísmo, tenham contribuído significativamente em benefício de Timor-Leste, dos timorenses ou da Humanidade”.