Miguel Poiares Maduro esteve oito meses no Comité de Governação da FIFA e sente que foi afastado do cargo por ter tentado “mudar processos que estão instalados há décadas” no organismo, revelou à Lusa o professor universitário.

Poiares Maduro, ex-ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional entre 2013 e 2015, explicou que o seu mandato acabou por não ser renovado talvez por não ter “cedido a pressões” e por ter mantido a “independência e a isenção” do comité.

“Tenho pena que o cumprimento sério e independente das nossas funções tenha, pelos vistos, gerado uma reação negativa num número suficiente de federações e também na FIFA para a não renovação do mandato. É uma mensagem negativa para um dos processos fundamentais para a reforma da FIFA”, disse à Lusa o professor universitário de 50 anos.

O ex-ministro contou que encontrou na FIFA e nas federações uma “cultura instalada há décadas que é resistente ao escrutínio e à transparência”, razão pela qual o organismo foi nos últimos anos inundado pelos “casos de corrupção que são conhecidos e por outros que se calhar ainda vão surgir”.

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“É natural que a partir do momento que passou a existir um órgão de competência nessa matéria e passou a exercer com total independência, sabia que ia existir resistência. Algumas vezes tentaram influenciar as nossas decisões, mas mostrámo-nos imunes a isso”, disse.

Poiares Maduro considerou que matérias como a introdução de restrições nos mandatos dos dirigentes, a ilegibilidade de algumas pessoas para cargos nos órgãos da FIFA e a introdução de eleições “livres e democráticas” em algumas federações acabaram por causar alguns “conflitos” e “desagrados”.

“Estamos a falar em mexer em cargos com pessoas com bastante poder no futebol e até na política internacional. Isso terá causado desagrado. Estamos também a falar na supervisão de eleições em federações que não estavam sujeitas a tal e isso criou alguns conflitos”, referiu.

Uma das ‘lutas’ de Poiares Maduro foi igualmente a garantia da proteção dos direitos humanos e da liberdade de expressão nos países organizadores dos campeonatos do mundo, dossier que chegou a ser apresentado, mas que não teve ‘luz verde’ na FIFA.

Para o antigo ministro, quem no futuro “exercer com independência” o seu cargo no Comité de Governação sabe agora que “fica em risco” de ficar sem mandato por decisão das próprias federações.

Poiares Maduro foi nomeado em maio do ano passado para o Comité de Governação pouco depois de Gianni Infantino ter sido eleito presidente da FIFA.