O Presidente dos Estados Unidos sugeriu esta sexta-feira que pode haver escutas das conversas que teve com o diretor do FBI, depois de vários relatos contraditórios sobre o conteúdo dessas conversas com James Comey, que Trump demitiu com efeito imediato esta semana.

Numa publicação no Twitter, Donald Trump acusou o ex-diretor do FBI de andar a passar à imprensa relatos das conversas, sugerindo a possibilidade de haver escutas das conversas, numa clara ameaça ao antigo diretor do FBI.

“É bom que James Comey esteja convicto que não há “gravações” das nossas conversas, antes de começar a passar informação à imprensa”, disse Donald Trump.

A publicação de Donald Trump foi feita esta manhã, depois de o New York Times ter publicado numa notícia, citando fontes com conhecimento das conversas, que dava conta que Donald Trump teria exigido a James Colmey que lhe jurasse lealdade num jantar a dois poucos dias depois da eleição.

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James Comey ter-se-á recusado a fazer essa promessa, dizendo ao Presidente dos Estados Unidos que não era uma pessoa “fiável” no sentido político mais convencional. De acordo com a versão que James Comey terá confidenciado ao seu núcleo próximo, Trump não terá ficado satisfeito e voltou a insistir no pedido, quando Comey lhe terá respondido que prometia ser “honesto” com o Presidente.

A conversa não ficou por aqui e Trump voltou a insistir, altura em que perguntou a Comey se seria uma “lealdade honesta” e o ex-diretor do FBI terá dito a Trump que teria isso mesmo.

A Casa Branca disputa esta versão dos acontecimentos. O próprio Donald Trump falou ainda esta quinta-feira sobre este jantar, mas com uma versão muito diferente dos acontecimentos: James Comey é que teria pedido para jantar com o Presidente e a questão da lealdade nunca foi tema de conversa.

Mas o ex-diretor do FBI “não está preocupado com quaisquer gravações” que possam ter sido feitas das conversas que manteve com Donald Trump, disse à CNN uma fonte próxima do caso esta sexta-feira. A mesma fonte, que se mantém anónima, disse também que Comey estava consciente que era possível vir a ser despedido “especialmente depois de se ter negado a prometer lealdade ao Presidente” e também depois do episódio das “escutas de Obama”. Quando Trump disse que o antigo presidente dos Estados Unidos teria mandado colocar escutas no edifício Trump Tower, Comey refutou essas alegações dizendo que não existiam provas que Obama tivesse ordenado as escutas.

Uma história mal contada

Quando Donald Trump decidiu demitir o diretor do FBI, com efeito imediato, na terla-feira, a Casa Branca ‘vendeu’ a decisão como acontecendo no seguimento de uma proposta do Procurador-Geral adjunto, Rod Rosenstein, que teve o acordo do Procurador-Geral, Jeff Sessions. Rod Rosenstein seria o mais alto responsável no Departamento de Justiça pela investigação da interferência da Rússia nas eleições norte-americanas e a eventual coordenação com elementos da campanha de Donald Trump.

A Casa Branca passou a mensagem de que o Presidente estava a seguir a recomendação de Rod Rosenstein, mesmo perante a tempestade política que levantou e as imediatas comparações com o caso do Watergate, em particular do Massacre de Sábado à Noite, quando Richard Nixon despediu o procurador-especial apontado para liderar a investigação ao caso, e o Procurador-Geral e o seu adjunto se demitiram, por recusarem cumprir essa ordem.

No entanto, mesmo com o esforço da Casa Branca para ‘pintar’ um quadro de incompetência de James Comey usando apenas a forma como lidou com a investigação ao caso do uso de um servidor de email privado por Hillary Clinton durante o tempo em que era Secretária de Estado, Donald Trump acabou por mudar a narrativa.

Numa entrevista à NBC esta quinta-feira, Donald Trump disse que já tinha decidido despedir James Comey antes da recomendação do Departamento de Justiça e que o iria fazer mesmo que essa recomendação não acontecesse e admitiu que, não só tinha questionado Comey sobre se estava a ser investigado, como que a razão do despedimento foi a investigação sobre a Rússia, que diz que não tem qualquer fundamento.

O New York Times avançou também que James Comey terá pedido mais recursos, humanos e financeiros, para levar a cabo a investigação sobre o conluio entre a campanha de Donald Trump e os agentes russos que tentaram influenciar o resultado das eleições presidenciais norte-americanas de novembro passado.

Watergate 2.0?

Depois das muitas comparações entre o despedimento de James Comey e o de Archibald Cox em outubro de 1973, Donald Trump querer reforçar ainda mais a ideia de que o caso é tirado a papel químico do caso do Watergate, que levou à demissão de Richard Nixon, o único presidente na história dos Estados Unidos a fazê-lo.

A publicação no Twitter feita esta tarde sugere a existência de gravações que podem pôr em causa a versão dos acontecimentos que está a ser noticiada pela imprensa como sendo a de James Comey. Foram exatamente as gravações das conversas entre Richard Nixon e os seus homens que acabaram por ditar o fim da sua presidência, uma vez que lá admitia que tinha conhecimento do caso do Watergate e levou a cabo ações para obstruir a justiça, um crime que pode levar à destituição do Presidente.

A decisão de Trump de admitir que a demissão se deve ao caso da Rússia pode deixar Donald Trump em maus lençóis, especialmente se forem apuradas responsabilidades dos seus homens nas ações russas para influenciar as eleições.