Sporting, zero points (com sotaque british), zero points (com entoação francesa), zero puntos, zero punti. Feirense, three points, trois points, trés puntos, tre punti. Assim mesmo, ao ritmo do Eurofestival da canção. O Feirense dá música ao Sporting e ganha pela primeira vez a um grande na história da 1.ª divisão. De virada, ainda por cima. Ao som de Thunderstruck dos AC/DC, cortesia dos adeptos da casa na direcção do guarda-redes Vaná, na sequência daquela monumental defesa a um cabeceamento de Coates aos 90’+2.

Que categoria, o Feirense. Desde que Nuno Manta Santos assume o clube, no lugar de José Mota, o Feirense sai da zona de descida e acumula 35 pontos. Um número sensacional se tivermos em conta o total de jesus desde a 15.ª jornada (40). Só mais cinco pontos. Five points, cinq points, cinco puntos, cinque punti. Pouco, pouquíssimo para a realidade díspar dos dois clubes.

O Sporting entra com as novidades Rúben Semedo, Gelson e Podence em relação ao jogo anterior (outra derrota, em Alvalade, com o Belenenses). O Feirense guarda o ouro no banco. Quer dizer, Platiny e Pelé é dose. Arranca o Sporting, por William. E é só isso. O Feirense começa melhor. Ganha o primeiro canto, cedido por Gelson (2′). E é o primeiro a incomodar Patrício, com Etebo a obrigar a uma defesa esforçada (13′).

De repente, sem justificar por aí além, o Sporting marca por Gelson. O lançamento de Jefferson apanha os dois jogadores mais altos, primeiro Coates, depois Bas Dost. Sozinho, Gelson estica-se todo e bate Vaná. O golo dá avanço e permite ao Sporting o sonho de chegar à sétima vitória seguida fora de casa na mesma época, algo só conseguido há 70 anos, por obra e graça dos Cinco Violinos treinados pelo inglês Robert Kelly em 1947.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Feirense acusa o golpe e reage com energia. Nove minutos depois, Tiago Silva faz o empate num livre directo descaído para a esquerda. Há ali três, quatro ou cinco jogadores a saltar na molhada, só que ninguém toca na bola. Nem Patrício, iludido pelo número inusitado de cabeças inúteis. O 1-1 dá ânimo ao Feirense, que só não vai em vantagem ao intervalo por culpa de uma intervenção fantástica de Patrício a um remate cruzado de Karamanos ao primeiro poste, após rápida jogada de Etebo pela esquerda a aproveitar o adormecimento de Schelotto.

Na segunda parte, a bola anda ali para a frente e para trás sem dó nem piedade. Às tantas, Jefferson saca um cruzamento generoso para um cabeceamento de Gelson muito por cima (63′). No quadradrinho seguinte, aos 68′, Etebo desmarca-se pelo meio, domina a bola, pisa a área e sofre um toque de Rúben Semedo. Penálti claro. Na marcação, com toda a calma do mundo, Tiago Silva bisa com o penálti clássico: bola para um lado, guarda-redes para o outro. A partir daqui, cabe ao Sporting atirar-se à baliza contrária. Dito e feito.

Gelson, sempre ele, obriga Vaná a uma defesa mirabolante em que a bola ainda bate primeiro na trave, depois no poste. Calma, há mais. Na recarga, Adrien obriga Vaná a outra defesa de recurso. Nuno Manta Santos decide então mexer no campo e faz entrar a tal dupla Platiny/Pelé. Daí até ao final, só o tal cabeceamento de Coates para uma defesa monumental de Vaná. É o canto do cisne. Ou melhor, do leão. Vasco Santos apita ao fim do terceiro minuto de descontos e é a primeira vitória do Feirense sobre um grande na 1.ª divisão. Que momento. Para o Sporting, é a segunda derrota seguida e a repetição do final do ano passado: 2-1 na Luz mais 1-0 do Braga em Alvalade.

Estádio Marcolino de Castro, na Feira
Árbitro: Vasco Santos
FEIRENSE Vaná; Barge (cap), Ícaro, Flávio e Vítor Bruno; Luís Machado (Platiny, 75′), Babanco (Pelé, 79′), Tiago Silva (Fabinho, 86′) e Edson; Etebo e Karamanos
Treinador Nuno Manta Santos (português)
SPORTING Patrício, Schelotto, Coates, Semedo e Jefferson; Gelson, William, Adrien (cap) e Bruno César (Matheus, 76′); Podence (Bryan, 58′) e Bas Dost
Treinador Jorge Jesus (português)
Marcadores 0-1 Gelson (18′); 1-1 Tiago Silva (27′); 2-1 Tiago Silva (69′)