O dia mais importante da ARCO Lisboa não aparece no calendário. A inauguração oficial está marcada para quinta-feira – com o presidente da Câmara de Lisboa e o secretário de Estado da Cultura – mas é nesta quarta, ao fim da tarde, que cerca de 60 colecionadores e 40 diretores de museus fazem uma visita exclusiva à feira de arte contemporânea. É o “Programa VIP”, momento mais importante do ponto de vista da organização e das galerias representadas. Sem público e sem filas, estes convidados veem as peças que lhes interessam e concretizam negócios ou iniciam um diálogo que pode resultar em transação daqui a poucos meses.

Quando as portas se abrirem ao grande público, de quinta a domingo na Cordoaria Nacional, com entrada a 15 euros, já muitas galerias saberão dizer se a feira lhes correu bem. Neste aspeto, a ARCO Lisboa 2017 não difere muito da edição de 2016, que marcou a estreia portuguesa desta conhecida feira internacional nascida em Madrid há 36 anos.

Ainda assim, até ao último dia, as galerias contam sempre com as compras por impulso, às vezes de dezenas de milhares de euros, normalmente feitas por pequenos colecionadores que gostam de um artista em particular ou descobrem uma obra para ter em casa. De resto, quase todos os outros visitantes encaram a ARCO como uma exposição de arte – o que os pode transformar em novos clientes mais ano, menos ano, acreditam os organizadores.

A grande novidade desta segunda edição está no aumento das parcerias com museus de arte contemporânea e instituições culturais da capital, o que parece criar uma dinâmica inédita em Lisboa. No ano passado, a feira organizou visitas guiadas a galerias e fomentou a abertura de exposições quase em simultâneo com o calendário da feira. O mesmo se passa desta vez, mas com atividades em 59 espaços de Lisboa e Cascais, em comparação com os 19 de 2016.

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De entre estas atividades paralelas merece destaque a exposição no Museu Nacional de Arte Antiga “Madonna: Tesouros dos Museus do Vaticano”, um conjunto de 50 obras nunca antes vistas em Portugal, pertencentes às famosas coleções de arte do Vaticano. O mesmo se diga da primeira individual em Lisboa da brasileira Paloma Bosquê, no Pavilhão Branco. Ou as seis propostas das galerias de Xabregas e Marvila: Ana Vidigal na Baginski; a coletiva “Morphogenesis” na Francisco Fino; João Penalva e Igor Jesus na Filomena Soares; Silvestre Pestana na Múrias Centeno; João Paulo Feliciano no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, ou Emily Roysdon na Kunsthalle Lissabon.

15 mil pessoas entraram na primeira ARCO Lisboa, no ano passado, de acordo com a organização

Outra novidade é o Encontro de Museus da Europa e do Espaço Ibero-Americano, iniciativa associada ao programa de Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura. O encontro não será aberto ao público e traz a Lisboa duas dezenas de diretores e curadores de museus, como Marta Gili, do parisiense Jeu de Paume; Evandro Salles, do Museu de Arte do Rio de Janeiro; ou Iwona Blazquez, da galeria londrina Whitechapel.

Em relação a 2016, a ARCO Lisboa não cresce muito em termos espaço. Continua a ser na Cordoaria Nacional, um edifício pombalino da segunda metade do século XVIII, na Avenida da Índia. Contudo, alarga-se à Casa da América Latina, onde decorrem conferências abertas ao público, as “Master Talks”, com Manuel Borja-Villel, diretor do Museu Rainha Sofía, em Madrid, e Hans Ulrich Obrist, responsável pelas Serpentine Galleries, em Londres.

O crescimento dá-se ao nível do número de galerias: são 50, oriundas de 13 países (em 2016 eram 45, de oito países), a que acrescem mais oito numa nova secção intitulada “Opening”, com curadoria de João Laia, destinada a galerias recentes que representam novos artistas.

Além disso, há mais jornalistas da imprensa especializada em arte. Foram quatro espanhóis e dois britânicos em 2016 e desta vez serão 21, incluindo das publicações Wallpaper, Die Zeit, ArtNet ou Folha de S. Paulo.

O orçamento geral da feira mantém-se, é de um milhão de euros, quase todo investido pela organizadora IFEMA — Institución Ferial de Madrid. O preço que cada uma das 50 galerias paga para ter um stand na ARCO também é igual ao de 2016: oito a 12 mil euros, conforme o espaço ocupado.

“O projeto cresceu, não tanto em tamanho, mas na qualidade dos conteúdos”, afirmou há dias, em conferência de imprensa, o diretor da ARCO, Carlos Urroz. Na mesma ocasião, Eduardo López-Puertas, diretor da IFEMA, sublinhou que “o critério de avaliação da feira não está no orçamento, antes no nível de qualidade” das obras apresentadas pelas galerias.

A forma de promoção dos artistas em cada stand é outra das semelhanças entre a primeira e a segunda ARCO Lisboa. As galerias seguem a regra do “Artista Destacado”, dando mais espaço a um nome que consideram comercial.

José Pedro Croft, representante de Portugal na Bienal de Arte de Veneza deste ano, é o destaque no stand da Vera Cortês, de Lisboa. Filipe Marques na portuense Fernando Santos. O libanês Walid Raad na Parra & Romero, de Madrid. E o chinês Fang Lijun na Art & Public, de Genebra.

O Observador consultou o catálogo da feira e, a partir das imagens disponibilizadas pela ARCO, escolheu 15 obras que vão estar na Cordoaria.