Quando o PSG perdeu fora com o Toulouse por 2-0, já depois da derrota no Mónaco, a reação foi a mesma: “Ah, ainda recuperam”. Afinal, na equipa estava Cavani, que custou 64,5 milhões de euros. Depois, em dezembro, veio uma série de duas derrotas e um empate seguidos com Montpellier, Guingamp e Nice. E a reação foi a mesma: “Ah, ainda recuperam”. Afinal, na equipa estavam Di María, Pastore e Thiago Silva, que custaram 63, 42 e 42 milhões de euros. Passou o mercado de Inverno e houve empates caseiros com Mónaco e Toulouse. As reações misturaram-se: “Ui, se calhar pode mesmo não dar”. Mas a equipa já tem Julian Draxler e Gonçalo Guedes, que juntos custaram 70 milhões. Veio a derrota em Nice, no final de abril, por 3-1. E a reação foi igual: “Agora é que não recuperam mesmo”. Nem com todos os milhões do mundo. Porque, como quem não quer a coisa, o Mónaco ganhou 17 dos últimos 19 jogos da Ligue 1, somando 53 dos 57 pontos em disputa. O dinheiro nem sempre compra títulos.

O PSG, que era tetracampeão, caiu. E deixou o topo para o Mónaco, que entrou no pódio das equipas com mais títulos em França após ganhar ao clube que mais troféus tem no seu currículo: o Saint-Étienne, com dez, o último dos quais em 1981. Segue-se o Marselha, com nove (o derradeiro em 2010) e o Nantes, com oito (último em 2001), os mesmos a partir de agora dos monegascos. E Leonardo Jardim tornou-se o primeiro português a ser campeão no principado, sucedendo a nomes como Lucien Leduc (três), Gérard Banide, Arsène Wenger, Jean Tigana e Claude Puel e quebrando um jejum que vinha desde 2000. Antes do madeirense, apenas Artur Jorge tinha ganho… no comando do PSG, em 1993/94, e com jogadores como George Weah, Raí, Valdo, Ginola, Ricardo Gomes ou Le Guen.

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No jogo de todas as decisões, o Mónaco foi Mónaco: teve mais bola, jogou no meio-campo do Saint-Étienne, não deu a mínima hipótese aos verts para tentarem esticar até ao ataque. Mbappé, quem mais?, inaugurou o marcador à passagem dos 19 minutos, num lance que começou com uma recuperação de João Moutinho em terrenos adiantados antes da assistência de Falcao para a flecha de 18 anos. Juntos, fizeram 36 golos no Campeonato até ao momento (21 do colombiano, 15 do francês). O que serve de deixa para outra análise: Leonardo Jardim tinha fama em França de ser um treinador defensivo. Pois bem, há alguma equipa com uma média de três golos por jogo no Campeonato? Sim, o Mónaco. Que já leva o fantástico número de 104 golos em 37 jornadas (ainda falta uma).

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Entre os portugueses, Bernardo Silva fez oito golos em 36 jogos (11 em 56 em todas as provas), ao passo que João Moutinho fez dois tentos em 31 partidas (quatro em 51 no total).

Foi uma temporada desgastante. Ao todo, os monegascos levam um total de 62 jogos oficiais – um recorde que mais ninguém na Europa tem – com 44 vitórias, oito empates e dez derrotas. Golos, na contabilidade geral, vai em 156 marcados e 72 sofridos. Com resultados: além de ter ganho o Campeonato, tendo agora 92 pontos a uma ronda do fim, mais seis do que o PSG, chegou às meias-finais da Champions, às meias-finais da Taça de França (perdeu por 5-0 com o PSG em Paris jogando com reservas) e à final da Taça da Liga.

Por isso, e apesar das investidas do Saint-Étienne no segundo tempo, o resultado de 2-0, carimbado por Germain nos descontos acabou por ser um prémio curto para uma temporada que consagrou o Mónaco como equipa revelação na Europa. Mas conta a festa final. Que teve a famosa “ola” nas bancadas onde estava o príncipe Alberto, visivelmente emocionado, e o milionário russo Dmitry Rybolovlev, que comprou a maioria do clube em 2011 quando os monegascos estavam na Ligue 2. Após subir, gastou balúrdios e não foi ganhou; foi buscar Jardim, apostou em miúdos talentosos e hoje é campeão.

Ainda se lembra do início do texto? Eis mais um exemplo de como o dinheiro nem sempre compra títulos.