Entre dias 17 e 28, o mundo do cinema instala-se com armas e bagagens no Festival de Cannes, que comemora 70 anos de existência e programou uma série de acontecimentos especiais. Estes incluem a exibição dos dois primeiros episódios da regressada série “Twin Peaks”, de David Lynch, da nova temporada de outra série, “Top of the Lake”, de Jane Campion (agora também com Nicole Kidman), de “24 Frames”, o filme póstumo de Abbas Kiarostami, ou de “Carne y Arena”, uma curta-metragem de Alejandro González Iñárritu que marca a estreia da realidade virtual no festival (é parte de uma instalação a ser futuramente apresentada na Fundação Prada, em Milão). O júri será presidido por Pedro Almodóvar e Claudia Cardinale tem honras de cartaz neste festival número 70.

https://youtu.be/khwuhgxjoXU

Na Selecção Oficial deste ano, formada pelos filmes em competição e fora de competição, pelos da secção paralela Un Certain Regard e pelos que passam nas Sessões Especiais, Sessões da Meia-Noite e pela dos 70 anos, nota-se a falta dos chamados “abonnés”, os cineastas “com assinatura”, que já ganharam a Palma de Ouro uma ou mais vezes e costumam ser presenças regulares em Cannes, quer por não terem tido os seus novos filmes prontos a tempo, quer por não terem estado em rodagem. O que abre espaço na Competição, por exemplo, a nomes como os irmãos americanos Josh e Benny Safdie, da cena “indie” novaiorquina, com o seu “Good Time”, ou ao sueco Ruben Ostlund, o autor de “Força Maior”, prémio Un Certain Regard de 2014, com “The Square”.

Cannes 2017 vai ver quatro filmes portugueses, uma longa-metragem e três curtas, nas secções paralelas Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica. Na Quinzena está “A Fábrica de Nada”, de Pedro Pinho, que decorre numa fábrica cuja laboração parou enquanto decorrem negociações para despedimentos, e é exibido juntamente com filmes de nomes como Abel Ferrara (“Alive in France”), Bruno Dumont (“Jeanette, l’enfance de Jeanne D’Arc”), Claire Denis (“Un Beau Soleil Intérieur”) ou Sean Baker (“The Florida Project”). Juntam-se-lhe as curtas “Farpões, Baldios”, de Marta Mateus, e “Água Mole”, uma animação de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires. A outra curta, “Coelho Mau”, de Carlos Conceição, será vista na Semana da Crítica. Eis doze filmes da Selecção Oficial que estão entre os mais esperados deste 70º Festival de Cannes.

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“Le Redoutable”

de Michel Hazanavicius

O realizador de “O Artista” adapta aqui o livro autobiográfico “Un An Après”, de Anne Wiazemsky, antiga mulher, colaboradora e actriz de Jean-Luc Godard, que é o protagonista do filme, sendo interpretado por Louis Garrel. O enredo passa-se entre 1967 e 1968, abrangendo a rodagem do filme de Godard “La Chinoise” (“O Maoísta”, em português) e os acontecimentos de Maio de 68.

“The Beguiled”

de Sofia Coppola

O novo filme da filha de Francis Ford Coppola é uma aposta muito arriscada. Trata-se de uma nova versão de “Ritual de Guerra”, que Don Siegel realizou em 1971, com Clint Eastwood no papel de um soldado nortista ferido e refugiado num colégio interno de raparigas sulistas durante a Guerra Civil americana. Colin Farrell, Nicole Kidman, Kirsten Dunst e Elle Fanning são os principais intérpretes.

“Okja”

de Bong Joon-Hoo

Um dos dois filmes da Competição deste ano produzidos pela Netflix (e que incomodaram a direcção do festival, por serem lançados em simultâneo e exclusivo na Net, sem irem às salas – para o ano, a Netflix será banida de Cannes se não se adaptar ao regulamento), “Okja” é uma fantasia do autor de “A Criatura”, sobre uma menina que tem como mascote um animal monstruoso mas pacífico, cobiçado por uma poderosa multinacional. Com Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal.

“Happy End”

de Michael Haneke

O realizador austríaco, duplo vencedor da Palma de Ouro, traz este ano à Croisette um drama sobre uma família passado em Calais, tendo como pano de fundo a crise dos refugiados e dos migrantes que acorrem em massa àquela cidade costeira francesa. Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant, Matthieu Kassowitz, Loubna Abidar e Toby Jones encabeçam o elenco de “Happy End”.

“L’Amant Double”

de François Ozon

Jacqueline Bisset, Jérémie Renier e Myriam Boyer são os protagonistas desta nova realização de François Ozon, um drama com cores de policial erótico. É a história de uma jovem emocional e psicologicamente muito vulnerável, que se apaixona pelo seu psiquiatra. Acaba por se mudar para casa dele e descobre pouco depois que o clínico, e seu amante, lhe oculta alguns aspectos da sua personalidade.

https://youtu.be/SUuDns5gn50

“Wonderstruck”

de Todd Haynes

O realizador de “Velvet Goldmine”, “Não Estou Aí” e “Carol” assina aqui um filme baseado no livro de Brian Selznick cujo enredo se centra em duas crianças, um rapaz do Midwest e uma menina de Nova Iorque, que viveram com 50 anos de diferença, mas têm histórias pessoais com algo de bastante misterioso e de muito importante em comum. Com Julianne Moore e Michelle Williams.

“Visages, Villages”

de Agnès Varda e JR

A realizadora Agnès Varda e o artista JR meteram-se numa autocaravana que também serve de laboratório fotográfico a este e foram à descoberta da França profunda e dos seus habitantes neste documentário, para os ouvir, fotografar e filmar. “Visages, Villages” é também a história da amizade que se estabeleceu e fortaleceu entre Varda e JR durante a viagem e as filmagens.

https://youtu.be/YlQ104-3XYs

“Barbara”

de Mathieu Amalric

Definido pelo seu autor como “um filme anti-biográfico”, este “Barbara”, a mais recente realização do actor francês Mathieu Amalric, tem Jeanne Balibar no papel de um actriz que se prepara para interpretar a célebre cantora Barbara (1930-1997) numa fita biográfica. O realizador (Amalric), que trabalha intensamente a personagem com ela, vai deixar-se invadir a pouco e pouco pela actriz.

“La Caméra de Claire”

de Hong Sang-soo

Além de apresentar “The Day After” na Competição, o coreano Hong Sang-soo mostra, na secção Sessões Especiais, este “La Caméra de Claire”, que foi rodado no Festival de Cannes de 2016, tendo Isabelle Huppert no papel de uma escritora e professora de liceu em “part time” que gosta de tirar fotografias. É a segunda vez que Sang-so dirige Huppert, depois de “Noutro País”, em 2012.

“Loveless”

de Andrei Zvyagintsev

Um casal russo que se está a divorciar tem que pôr de parte as suas divergências aparentemente irreconciliáveis e ir à procura do filho, que fugiu de casa durante uma das violentas discussões entre o pai e a mãe. O realizador de “O Regresso”, “Elena” e “Leviatã” concorre à Palma de Ouro com este drama sobre uma família que se está a desfazer e onde o amor parece ter secado.

“Les Fantômes d’ Ismael”

de Arnaud Desplechin

O filme de abertura do festival deste ano é realizado por um francês que foi membro do júri em 2016, e apresentado fora de competição. Arnaud Desplechin incluiu elementos autobiográficos nesta história de um realizador (Mathieu Amalric) que está a preparar um novo filme, quando se vê confrontado com o aparecimento de uma antiga amante (Marion Cotillard).

https://youtu.be/Esy1mJa2LC8

“Blade of the Immortal”

de Takashi Miike

O incansável Takashi Miike apresenta em Cannes a sua centésima realização, uma versão em imagem real da “manga” homónima de Hiroaki Samura. Passado no Japão do tempo dos samurais, a fita tem como herói Manji, um samurai que ficou imortal depois de participar numa batalha lendária, e que tem como missão vingar o assassínio da sua irmã, e dos pais de uma rapariga a quem fez uma promessa.