O Departamento da Justiça dos EUA nomeou esta quarta-feira Robert S. Mueller, antigo diretor do FBI, como procurador especial para supervisionar a investigação acerca das influências russas nas eleições presidenciais americanas. A informação foi avançada pelo The New York Times. “Determinei que é de interesse público que eu exerça a minhas autoridade para nomear um procurador especial que assuma a responsabilidade nesta investigação”, disse o vice-procurador-geral, Rod J. Rosenstein, que nomeou Mueller. Tendo em conta estas “circunstâncias únicas”, acrescentou Rosenstein, “o interesse público exige que se coloque esta investigação sob a autoridade de uma pessoa que goze de independência em relação à cadeia hierárquica normal”.

Também esta quarta-feira foram divulgadas gravações de áudio, datadas de junho do ano passado, em que Kevin McCarthy, líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, afirma que Vladimir Putin pagava a Donald Trump. “Há duas pessoas que eu penso que Putin paga: Rohrabacher e Trump”, ouve-se na gravação a que o The Washington Post teve acesso. Dana Rohrabacher é uma republicana da Califórnia, tal como McCarthy, e fervorosa defensora de Putin e da Rússia, como explica o Washington Post. O presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, interrompeu conversa do seu colega fazendo os outros republicanos prometerem que mantinham aquela conversa secreta.

Trump já tinha pedido ao diretor do FBI para encerrar a investigação de Flynn

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A nomeação de Mueller como procurador especial dar-lhe-á mais autonomia na investigação do que aquela que teria um advogado. Por consequência, Mueller terá de se despedir do seu cargo na WilmerHale, uma sociedade de advogados. Esta nomeação acontece na sequência da divulgação das notas escritas por James Comey, ex-diretor do FBI despedido por Trump, que afirmam que o presidente norte-americano lhe pediu para encerrar a investigação a Michael Flynn.

A reação de Trump: investigação “vai confirmar” que “não houve nenhum conluio”

O presidente Donald Trump já reagiu a esta nomeação. Citado pelo Washington Post, Trump afirma que “uma investigação completa vai confirmar aquilo que já sabemos — que não houve nenhum conluio entre a minha campanha e qualquer entidade estrangeira”. O presidente norte-americano mostrou-se ainda “desejoso de que este assunto fique concluído rapidamente”. “Entretanto, não deixarei de lutar pelas pessoas e pelos assuntos que mais importam para o futuro do nosso país”, disse ainda Donald Trump. De acordo com o mesmo jornal, o vice-procurador-geral, Rod J. Rosenstein, contactou a Casa Branca apenas 30 minutos antes de anunciar publicamente a decisão de nomear o antigo diretor do FBI para o cargo.

Trump está debaixo de fogo desde que há três dias foi divulgado pelo Washington Post que o presidente dos EUA partilhou informações sensíveis sobre o Estado Islâmico com o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov. Um dia depois, Trump defendeu-se, afirmando que tem “todo o direito” de partilhar informações estratégicas com outros países com o objetivo de lutar contra o Estado Islâmico. Entretanto, Vladimir Putin já se mostrou disponível para divulgar ao Congresso e ao Senado as transcrições das conversas que Trump teve com Lavrov em Moscovo.

A tensão adensou-se quando, no mesmo dia, se soube que Trump tinha pressionado James Comey, ex-diretor do FBI que despediu este ano, para encerrar a investigação sobre o antigo Conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. “Espero que consigas encontrar uma maneira de deixar passar isto, de deixar passar o Flynn… Ele é um tipo porreiro. Deixa andar”, terá dito Trump a Comey, de acordo com um conjunto de notas escritas divulgadas pelo antigo líder do FBI. Flynn renunciou ao cargo no início do ano depois de ter ocultado encontros que teve com o embaixador russo nos Estados Unidos e estava a ser investigado no âmbito da possível interferência da Rússia nas eleições presidenciais norte-americanas.

A polémica já levou inclusivamente o congressista democrata Al Green a avançar com o primeiro pedido formal de impeachment — destituição — do presidente norte-americano. Uma petição colocada entretanto online já reuniu mais de um milhão de assinaturas a exigir a saída de Trump.