Foi tudo acordado na Conferência de Ialta, a segunda de três conferências em tempos de guerra entre os líderes das nações aliadas: embora dois anos antes a China, os Estados Unidos e o Reino Unido tenham decidido que “a Coreia se tornaria uma nação independente após a guerra”, essa decisão foi revertida. Ficou então acordado que a Coreia do Norte seria presenteada à União Soviética se ela aceitasse combater os japoneses durante a II Guerra Mundial. E assim foi: o Exército Vermelho ocupou o norte da Coreia a 26 de agosto de 1945 e só parou no paralelo 38. A partir dali, os Estados Unidos tinham outro plano.

Não foi a primeira ocupação. A história coreana é, aliás, feita de invasões desde o final do século XIX e início do século XX. Quando a Dinastia Qing caiu, durante a Primeira Guerra Sino-Japonesa, os japoneses ocuparam a península coreana e, mais tarde, derrotaram a Rússia na Guerra Russo-Japonesa. Os militares japoneses eram implacáveis: era proibido falar a língua local, não se podia ler livros coreanos e as manifestações culturais de raízes coreanas também foram proibidas. Quase 24 milhões de coreanos foram obrigados a adoptar nomes japoneses.

A II Guerra Mundial só veio vincar ainda mais o governo ‘colonial’ na Coreia: os homens coreanos foram obrigados a alistarem-se para defender militarmente o Japão — os coreanos chegaram a significar 32% da força militar do Japão na guerra — e quase 2,5 milhões de pessoas foram obrigadas a trabalho forçado. Quando as bombas atómicas destruiram Hiroshima e Nagasaki, um quarto dos mortos eram naturais da Coreia. No entanto, as bombas obrigariam também à saída forçada dos japoneses da península coreana.

Assim que a derrota japonesa pareceu se tornou cada vez mais evidente, os Estados Unidos retraíram-se em relação ao acordo feito com a Rússia: temiam que os soviéticos falhassem aos termos combinados para a ocupação da Coreia. Dean Rusk e Charles H. Bonesteel III, dois coronéis norte-americanos, tinham dividido a península da Coreia através do paralelo 38 já esperando o pior: assim, “caso a União Soviética violasse o acordo, a área ocupada pelo Exército Vermelho estaria ao alcance rápido das forças americanas”. Os soviéticos aceitaram a divisão. Estávamos em 1949. E a Guerra da Coreia estava prestes a começar.

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Acabaria por arrancar oficialmente a 25 de junho de 1950. Kim Il-sung tinha ido a Moscovo e a Pequim para pedir apoio numa eventual guerra com o sul. Mao Tse Tung já tinha enviado 50 mil soldados do Exército de Libertação Popular e um arsenal de armas para a Coreia do Norte para apoiar esta parte da península coreana num conflito que estava iminente. A Coreia do Norte atravessou então o paralelo 38, mas anunciou que tinham sido os militares sul-coreanos os primeiros a pisar a linha e a quebrar os acordos. Estava iniciada a Guerra na Coreia, com 200 mil norte-coreanos num lado e com 100 mil sul-coreanos do outro durante o primeiro conflito.

Ao longo de pouco mais de três anos, a Coreia do Norte manteve o apoio da China e da União Soviética, enquanto a Coreia do Sul conseguiu o apoio da ONU, da Austrália e Nova Zelândia, do Reino Unido e dos Estados Unidos. O norte chegou a combater com mais de 1,5 milhões homens, enquanto o sul tinha um exército que não chegava ao milhão de militares. Até 27 de julho de 1953, morreram quase 1 milhão de pessoas e 1,5 milhões de civis ficaram feridos. Nesse dia, delegados da ONU, da China e da Coreia do Norte assinaram em Panmunjon um armistício que pôs fim ao conflito. No entanto, nunca houve um tratado de paz entre as duas Coreias. E pelo meio ficou um rasto de destruição, famílias separadas por uma linha e um país fechado ao mundo a norte do paralelo 38.

Veja as imagens raras da Guerra da Coreia na fotogaleria.