Centenas de pessoas concentraram-se na quarta-feira à noite no centro de São Paulo, no primeiro protesto organizado na sequência das denúncias de que o Presidente brasileiro autorizou o pagamento de um suborno a um deputado.

Os manifestantes empunharam cartazes e bandeiras a exigir a realização de eleições diretas, ao mesmo tempo que gritaram: “Fora [Michel] Temer”, constatou a agência Lusa no local.

O jornal brasileiro O Globo noticiou na quarta-feira que o empresário Joesley Batista, acionista da empresa JBS, gravou uma conversa na qual o Presidente brasileiro, Michel Temer, o autoriza a pagar um suborno pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por participação no esquema de corrupção na Petrobras.

A polícia fechou parte da avenida Paulista ao trânsito, na sequência da manifestação, convocada ao início da noite de quarta-feira através da rede social Facebook.

Pouco antes da meia-noite, os manifestantes começaram a abandonar a avenida, que foi reaberta ao trânsito.

Michel Temer disse que “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio de ex-deputado Eduardo Cunha”, num comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto poucas horas depois da notícia de O Globo.

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No comunicado, o chefe de Estado brasileiro afirmou que “não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”.

Uma manifestante, Karina Bernardino, de 25 anos, disse à Lusa que decidiu protestar na avenida Paulista assim que soube das denúncias.

“Cheguei a casa e logo soube da denúncia. O Michel Temer tem que cair e devemos convocar novas eleições. O povo tem o direito de votar de novo”, afirmou.

Sobre o instável cenário político do país, que no ano passado assistiu à destituição da Presidente Dilma Rousseff e tem acompanhado as denúncias de corrupção contra centenas de políticos, Karina considerou que os brasileiros têm de ser mais ativos.

“É frustrante ver que nem todo o mundo está na rua. As pessoas acostumaram-se com a corrupção e isto é muito negativo. Temos que mudar”, declarou.

Para o economista Everton Carneiro, que também participou no protesto, o Governo de Michel Temer já acabou.

“O Presidente não tem outra opção senão a de renunciar. Quando soube das denúncias contra o Temer, a primeira coisa que pensei foi que o Governo tinha acabado”, declarou.

O economista, de 30 anos, sublinhou que o suposto pagamento de suborno ao ex-deputado Eduardo Cunha, alegadamente autorizado por Temer, é mais um exemplo de que “a velha política” ainda domina o Brasil.

“A população brasileira é muito ingénua e agarra-se a um discurso moralista contra a corrupção. Devemos discutir mais as causas da corrupção porque acordos como este que o Temer fez para comprar o silêncio do Eduardo Cunha são corriqueiros”, concluiu.