No evento anual da SAP, em Orlando, nos EUA, não faltam gadgets, computadores, iPads e luzes. Mas para Mark Brandau, responsável pelas soluções de gestão de capital humano da empresa alemã, nada disso é suficiente: “são as pessoas que fazem com que tudo isto funcione”. Ao Observador, e à margem do Sapphire – um evento que tem a revolução digital das empresas como pano de fundo -, Mark Brandau explicou porque é que o sucesso de qualquer empresa é construído nas pessoas: porque são elas que estão no epicentro de qualquer transformação tecnológica.
“As pessoas estão no centro de qualquer tipo de transformação que aconteça com a tecnologia. Os dados podem ser o combustível, mas as pessoas são o engenho. E isso é muito importante, porque o sucesso de qualquer empresa é construído nas pessoas”, disse Mark Brandau, que é um dos responsáveis pela plataforma SuccessFactors, a startup de software de gestão de capital humano que a SAP comprou em 2011 por 3,4 mil milhões de dólares (cerca de 3 mil milhões de euros).
E pega no combustível para explicar como é que num mundo cada vez mais automatizado se mudam culturas empresariais. “Os recursos humanos têm de abraçar os dados. Temos muitos estudos que dizem que estão a começar a olhar para eles, mas isto não acontece como nas Finanças, por exemplo, onde há padrões sobre como fazer as coisas. Os recursos humanos começaram agora a abraçar os dados, mas não estão sequer perto do ponto onde deveriam estar. E nunca houve melhor altura, sobretudo com a cloud, para recolher dados, analisá-los e elevá-los, para que nos deem verdadeiramente informação”, afirmou.
Gerir pessoas através de um software e dizer que as pessoas são o epicentro da revolução digital pode parecer um contrassenso, mas para o responsável das soluções de recursos humanos da SAP tal nunca foi tão verdade como agora. “Agora, mais do que em qualquer outra altura da história, a força de trabalho é, no seu todo, global. Estamos todos ligados a coisas, a ferramentas e aparelhos e a chats, e ainda assim, estamos largamente desconectados”, afirmou. O que fazer para melhorar a conexão entre as pessoas no local de trabalho? Eliminar processos como a avaliação anual do desempenho dos colaboradores.
“Ter processos contínuos de gestão de desempenho é muito mais relevante e interativo entre as pessoas. Os trabalhadores podem ter feedback sobre o seu trabalho em tempo real e este tipo de software consegue mesmo substituir o processo formal. Isto é só um exemplo de como tentamos que haja mais ligação entre os trabalhadores”, explicou.
Sobre o medo de a revolução digital fazer desaparecer vários postos de trabalho em várias indústrias, Mark Brandau explica que, aqui – tal como noutra parte da empresa – é preciso olhar para os dados. “Lembras-te que os dados são o combustível das empresas? As pessoas que trabalham em Recursos Humanos precisam de olhar para os dados e perceber onde é que estão a perder pessoas, que mudanças devem fazer. Passa a tornar-se muito mais uma função de estratégia do que um negócio. E acho mesmo que é aqui que está o valor.”
Desligue o telemóvel e dê um abraço aos dados
“Muitas organizações estão a começar a perceber que quanto mais saudáveis e felizes as pessoas estiverem, mais criativas e produtivas serão enquanto trabalhadores”, afirmou aos jornalistas Arianna Huffington, fundadora do Huffington Post, CEO da Thrive Global e uma das empresárias mais reconhecidas nos EUA.
Antes da conversa de Mark Brandau com o Observador, a mulher que também é uma das conselheiras de Travis Kalanick no conselho de administração da Uber, anunciou uma parceria com a SAP, para ajudar os clientes da SAP SuccessFactors a evitar os “epidémicos burnout [esgotamento físico e intelectual] das equipas, que afeta cerca de 70% dos colaboradores.
“Juntos estamos a começar uma nova forma de gestão, que reconhece as novas descobertas científicas sobe a ligação entre o bem-estar e a produtividade e impulsiona as organizações a fazer mudanças profundas, que terão um impacto real nos custos que as empresas têm com os cuidados de saúde, recrutamento, retenção e desempenho dos colaboradores”, acrescentou.
Arianna Huffington: “A privação de sono é uma epidemia global”
Para Arianna Huffington, a privação do sono é uma epidemia global e foi depois de ter tido um burnout que lançou a Thrive Global – plataforma sobre bem-estar e produtividade para ajudar a fazer as mudanças que as organizações precisam para dar prioridade ao bem-estar – e escreveu o bestseller norte-americano “A Revolução do Sono”. Aos jornalistas presentes no Sapphire, explicou porque é importante terem momentos em que se desligam da tecnologia e fazem um detox digital diário.
“É maravilhoso teres uma empresa tecnológica como a SAP que recomenda aos seus trabalhadores que tenham tempo para se desligarem da tecnologia. Parece um paradoxo, mas é o futuro”, afirmou.
Para Mark Brandau, esta ideia não e utópica, mas não deixa de ser difícil. “Qualquer mudança comportamental é difícil. Se me disseres para deixar de beber café, isso vai ser um problema. É um comportamento. Somos viciados em tecnologia? Talvez. Mas acho que aqui o conceito mais importante é o da saúde e o do bem-estar. Temos de olhar para as equipas e perguntar: estas pessoas são saudáveis e como estamos a contribuir? Estão contentes?”, acrescenta.
A SuccessFactors foi comprada pela multinacional alemã em dezembro de 2011. Desenhada para gerir os processos de recursos humanos em várias indústrias, do recrutamento à gestão de desempenho dos colaboradores, desenvolveu ferramentas que permitem gerir horários, salários, análises de trabalhadores de empresas. Tem 6200 clientes em 37 países e mais de 47 milhões de utilizadores.
*A jornalista viajou para Orlando, nos EUA, a convite da SAP