“I Am Not Your Negro-Eu Não Sou o Teu Negro”

O escritor negro americano James Baldwin, que morreu em 1987, deixou 30 páginas manuscritas de um livro intitulado “Remember this House”, uma memória pessoal da vida de Martin Luther King, Malcom X e de Medgar Evers, este um activista dos direitos civis, que conheceu nos anos 50 e 60 e dos quais foi amigo. O realizador marxista haitiano Raoul Peck pegou nesse espólio literário para realizar este documentário sobre a visão – muito dramática e muito pessimista – que Baldwin tinha das relações raciais nos EUA, mas o filme assenta numa premissa à partida equívoca. Para Peck, é como se, no último século, pouco ou nada tivesse mudado na sociedade americana em termos de direitos, de dignidade básica e de progresso geral dos negros desde os anos da segregação racial, da violência racista – em especial no Sul – e da luta pelos direitos civis e pela plena cidadania.

A amarga visão de James Baldwin está bastante datada e ultrapassada pelo natural desenvolvimento político, económico, social e cultural e das mentalidades, e o que Raoul Peck tem a acrescentar são pouco mais do que imagens e fotos de protestos em grande parte relacionados com o movimento radical BlackLivesMatter e a sua agenda. Números, estatísticas, factos, dados concretos e contraditório básico não são – convenientemente – para aqui chamados. Teria sido interessante auscultar a opinião de intelectuais, sociólogos, jornalistas, autores e políticos negros conservadores como Thomas Sowell, Shelby Steele, Mia Love ou Stanley Crouch, por exemplo, mas Peck parece nunca ter ouvido falar deles e está mais interessado em fazer um panfleto emocional do que um documentário sério. Um filme superficial, manipulador e reducionista, narrado por Samuel L. Jackson.

Planetário”

O espiritismo encontra o cinema nesta terceira longa-metragem da francesa Rebecca Zlotowski, de quem Portugal já viu “Grand Central” (2013). Estamos em Paris, numa Europa muito perto de ser mergulhada na II Guerra Mundial. Duas irmãs americanas, Laura e Kate Barlow (Natalie Portman e Lily-Rose Depp, esta filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis) têm um número de espiritismo num clube nocturno e fazem sessões privadas. Convencido de que as irmãs conseguem mesmo comunicar com os mortos, um produtor de cinema, André Korben (Emmanuel Salinger) instala-as em sua casa, rodeia-as de conforto e concebe um filme à medida delas, pretendendo à viva força que nele fique registado uma manifestação sobrenatural verdadeira. Só que o filme vai engolindo dinheiro e os financiadores de Korben começam a ficar preocupados. Em vez de enveredar por um enredo que privilegiasse o elemento fantástico, Rebecca Zlotowski preferiu ficar a seguir as mais prosaicas histórias pessoais e românticas de Laura e Kate, e daqueles que as rodeiam, e “Planetário” torna-se digressivo e maçador. Sendo ainda prejudicado por uma pouco convincente recriação da época e pela diferença de experiência e de sentido de presença na tela entre Portman e Rose-Depp.

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“Alien: Covenant”

No sexto filme da saga “Alien”, realizado por Ridley Scott, e segundo de uma nova trilogia que antecede a saga “Alien” original e faz a ponte para o primeiro desta, “Alien: O 8º Passageiro”, a nave Covenant, que transporta colonos em hibernação e embriões, é atraída por uma estranha transmissão de rádio para um planeta aparentemente paradisíaco. Lá, os seus tripulantes descobrem o andróide David (Michael Fassbender) e o que resta da Elizabeth Dra. Shaw, os únicos sobreviventes de “Prometheus”, o filme anterior, bem como uma estranha e sinistra necrópole, cedo começando a ser atacados, trucidados e usados como incubadoras e por “aliens”. “Alien: Covenant” é, tal como o original, um filme de terror num enquadramento de ficção científica, sendo que aqui, os membros da tripulação da Covenant têm que enfrentar os “aliens” quer a céu aberto, no planeta onde aterraram, quer no interior da sua nave espacial; e os ditos “aliens” são morfologicamente mais variados, embora as suas intenções continuem a ser as dos costume: atirarem-se aos humanos como gato a bofe e transformá-los em hospedeiros das suas crias. Fassbender tem um duplo papel, porque a Covenant traz um andróide gémeo de David, mas tecnologicamente mais avançado e eticamente mais afinado, chamado Walter. “Alien: Covenant” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.