A seca prolongada em Angola afeta cerca de 1,42 milhões de pessoas, das quais 756 mil são crianças, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) igualmente preocupado com o aumento de casos de cólera.

De acordo com o relatório de abril da Unicef sobre a situação humanitária em Angola, consultado esta sexta-feira pela Lusa, as “chuvas intensas temporárias” que se fizeram sentir nas últimas semanas no país, sobretudo no norte, “elevaram o risco de surtos de cólera e outras doenças transmitidas pela água”.

No mês passado, segundo os dados da Unicef, o número acumulado de casos suspeitos de cólera em Angola ascendia a 392, dos quais 218 na província do Zaire, mas também em Cabinda e Luanda, que no total provocaram 18 mortos.

“A Unicef reabilitou 20 pontos de água durante os primeiros meses de 2017, garantindo acesso a água potável para até 5.000 crianças em áreas afetadas pela seca”, lê-se no mesmo relatório, que acrescenta que 68.000 pessoas em áreas afetadas pela cólera receberam apoio no tratamento de água para consumo.

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Além disso, aquela organização das Nações Unidas refere que em abril a resposta nutricional permanecia “criticamente sub-financiada”, tendo a Unicef conseguido “admitir 3.719 crianças desnutridas em áreas afetadas pela seca em programas de tratamento terapêutico”.

De acordo com a Unicef, “secas severas” continuavam a afetar as sete províncias do sul do país, casos do Cunene, Huíla, Namibe, Benguela, Cuando Cubango, Cuanza Sul e Huambo.

“As mais afetadas são as três províncias fronteiriças do Cunene, Namibe e Huíla, onde a Unicef está a concentrar a sua resposta global”, refere a organização, sublinhando que o fenómeno do ‘El Niño’ resultou em “perdas significativas de produção de alimentos de quase 90 por cento”.

O resultado são 800.000 pessoas em situação de “insegurança alimentar” em Angola, e com as taxas de desnutrição aguda grave (SAM) a permanecerem elevadas, em 3,6% no Cunene e Cuando Cubango, “superior à média nacional relatada de 1%”.

O mesmo relatório indica em abril uma taxa de desnutrição aguda de 11% por cento e uma taxa de prevalência de desnutrição entre 20 a 29%. Em 2016, o número estimado de crianças com SAM nas sete Províncias mais afetadas foi de 95.877.

Nesta região, aproximadamente 30% dos poços existentes não são funcionais, principalmente devido à falta de manutenção e falta de peças sobressalentes. Dessa forma, “as pessoas continuam a usar água imprópria para beber, lavar e cozinhar”, incluindo a partilha de fontes de água com animais, provocando o aumento dos casos de diarreia e outras doenças transmitidas pela água.

Para a assistência humanitária em Angola a crianças e mulheres a Unicef estima precisar, em 2017, 20,2 milhões de dólares (18 milhões de euros), mas apenas garantiu ainda doações de seis milhões de dólares (5,3 milhões de euros), nomeadamente da Rússia e do Japão.