O filme “Durante o Fim”, sobre o universo artístico do escultor Rui Chafes, mostra uma obra “com uma intensa postura ética” e “grande espiritualidade”, em falta hoje em dia, nalgumas áreas da sociedade, segundo o realizador, João Trabulo.

A obra, criada em 2003 e com estreia comercial em 2011, vai ser lançada em DVD, numa exibição marcada para sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com a presença do realizador e do artista.

Contactado pela agência Lusa, João Trabulo indicou que o lançamento da obra em DVD “vem fechar um ciclo”, depois da sua estreia comercial, e itinerância por vários museus e festivais, em Portugal e no estrangeiro, onde conquistou prémios.

Ele [Rui Chafes] é um artista com uma grande intensidade criativa, e sobretudo com uma grande espiritualidade que está em falta hoje em dia, em muitas vertentes da sociedade”, sublinhou.

O que fascinou João Trabulo desde o início, na obra de Rui Chafes, foi a sua “intensa postura ética, que está patente no seu trabalho”.

O filme mostra um pouco isso: o percurso que um artista tem de fazer, o esforço, a dedicação, a perseverança, misturado com o talento, para que se atinja a perfeição. Se é que isso existe”, comentou o realizador.

“Durante o Fim”, em DVD, teve lançamento oficial em Paris na última semana, durante o Lusoscopie, um evento com uma programação de vários artistas portugueses, incluindo Rui Chafes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Realizado em 2003, o filme foi premiado, entre outros, no The European Union Countries Documentaries Panorama (2006), no Festival do Rio de Janeiro (2004), no New York Independent Film Festival (2004) e no Festival International du Film sur L’Art (2004).

João Trabulo – que se iniciou no cinema com o produtor Paulo Branco, na Gemini (Paris) e Madragoa (Lisboa) colaborando em filmes de Manoel de Oliveira, João César Monteiro, Robert Kramer e Pedro Costa – contou à Lusa que decidiu fazer o filme naquela altura porque conhecia o trabalho de escultura de Rui Chafes, e considerava-o “extraordinário”.

Como [Rui Chafes] é muito avesso a reportagens sobre o seu trabalho, tem sempre reservado este seu universo a ocasiões especiais. Este filme, é de facto uma ocasião especial, e foi com o consentimento dele que se decidiu fazer o lançamento em DVD, na sequência do Prémio Pessoa 2015″, atribuído ao escultor.

João Trabulo – que já fez filmes sobre o pintor Fernando Lanhas e o escritor Teixeira de Pascoaes – considera muito importante a divulgação do trabalho de Rui Chafes ao público, “até porque muitos estudantes de belas artes têm pedido” para o ver.

Rui Chafes “não anda só à procura de reconhecimento, preserva-se muito, não cede a algumas tentações de aparecer socialmente. Ele está sobretudo preocupado com o seu trabalho e deixar algo que tenha referências éticas, sociais e espirituais muito fortes”.

Nascido em Lisboa, há 50 anos, onde vive, Rui Chafes representou Portugal, juntamente com José Pedro Croft e Pedro Cabrita Reis, na 46.ª Bienal de Arte de Veneza, em 1995, e, em 2004, na 26.ª Bienal de S. Paulo, com um projeto conjunto com Vera Mantero.

O seu trabalho tem sido apresentado em Portugal e no estrangeiro, desde os anos 1980, e há dois anos apresentou a exposição antológica “O peso do paraíso”, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.