A inspetora da PJ do Porto Ana Saltão reafirmou, no Tribunal de Coimbra, que está inocente no processo em que é acusada de matar a avó do marido, cuja repetição de julgamento arrancou esta segunda-feira.

A inspetora é acusada pelo Ministério Público de ter sido a autora dos mais de dez disparos que mataram Filomena Alves, de 80 anos, na sua residência em Coimbra, na tarde de 21 de novembro de 2012.

No arranque da repetição do julgamento (decretada pela Relação), Ana Saltão voltou a contar aquilo que tinha contado em 2014 no Tribunal de Coimbra, negando que tivesse cometido o crime de homicídio qualificado de que é acusada. Durante o seu depoimento, Ana Saltão procurou desmontar aquele que seria o móbil do crime no entender da acusação – dificuldades financeiras por parte do casal.

Segundo a inspetora da PJ, o casal vivia com cerca de três mil euros líquidos por mês, tinha uma conta de cinco mil euros num banco, outros quatro mil em planos poupança reforma e não tinham dificuldades financeiras. “Mas se surgisse uma situação inesperada, tínhamos com quem contar”, sublinhou Ana Saltão, referindo que à data do crime o casal devia mil euros à avó do marido.

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Para além disso, a inspetora realçou que ficou “admirada” que a avó do marido “tivesse tantas poupanças”, recordando que, mesmo assim, o neto não era “herdeiro direto”. “Tínhamos de matar uma data de gente para termos o dinheiro”, disse, de forma irónica, criticando a tese da acusação. Durante o depoimento, a arguida recordou que ainda estava de baixa por causa de uma cirurgia, sendo que não podia fazer grandes esforços e foi aconselhada a conduzir apenas em “trajetos muitos curtos”.

No dia 21 de novembro de 2012, dia do crime, Ana Saltão contou que saiu de casa às 14h30 para ver o correio, regressou, dormiu até às 18h00, foi ao supermercado e só depois foi buscar a sua filha, por volta das 19h00. Sobre o facto de o seu telemóvel ter estado desligado durante a tarde de 21 de novembro, a inspetora justifica-se com o que terá ocorrido dois dias antes: o casal fazia anos de casados e terá entornado vinho no telemóvel que, depois disso, “nunca mais funcionou bem”. Sobre a queimadura na sua mão, Ana Saltão apontou novamente para o dia 19 de novembro, referindo que a queimadura ocorreu com uma frigideira enquanto fazia “uma omelete de espargos”.

Já no final do seu depoimento e instada pela defesa, a arguida empunhou uma Glock (a arma do crime) na sala de audiências para mostrar que uma empunhadura correta da arma nunca causaria uma queimadura na mão. Tal demonstração foi questionada pelo Ministério Público, que sublinhou que numa situação em que são disparados “14 tiros contínuos a arma pode desposicionar-se” e causar a queimadura.

Ana Saltão foi inicialmente absolvida em 2014, por um tribunal de júri, tendo depois sido condenada em 2015 pelo Tribunal da Relação a 17 anos de prisão. Em 2016, o Supremo rejeitou a decisão da segunda instância e o processo regressou à Relação de Coimbra, que determinou a repetição do julgamento na primeira instância, novamente com recurso a tribunal de júri. Estão previstas sessões para todos os dias, de manhã e de tarde, até 22 de junho (com exceção das sextas-feiras).