Numa altura em que a Ford atravessa mais uma fase de reestruturação, com o objectivo declarado de reduzir custos e aumentar os lucros, nomeadamente através do redireccionar de investimentos e o despedimento de (pelo menos) 1.400 trabalhadores nos EUA, eis que “o feitiço se virou contra o feiticeiro”: Mark Fields, presidente e CEO da marca da oval, mas também o rosto deste novo plano de reestruturação, acaba de ser despedido. Para o seu lugar, foi já nomeado Jim Hackett, o homem que até aqui liderava a subsidiária criada pelo primeiro, a Ford Smart Mobility.

O anúncio do despedimento de Fields foi já oficializado pelo fabricante automóvel norte-americano, com a explicação de que a nomeação de Hackett visa fortalecer as operações da companhia e transformar o futuro da marca. Quanto a Mark Fields, no comunicado entretanto divulgado, é referido apenas que vai retirar-se, após 28 anos ligado à empresa.

Jim Hackett, de 62 anos, que antes de ingressar na Ford esteve à frente da marca líder de mobiliário de escritório Steelcase, vai, a partir de agora e nas suas novas funções de CEO, reportar directamente ao presidente executivo da companhia, Bill Ford. Para trás, fica, no entanto, uma passagem pelo conselho de administração da marca da oval, entre 2013 e 2016, assim como a liderança da subsidiária Ford Smart Mobility, empresa criada pelo seu antecessor para congregar os investimentos feitos pela marca no domínio do automóvel autónomo e das novas soluções de mobilidade.

Jim Hackett é o novo homem do leme

A par da promoção de Hackett – que disse já sentir-se “excitado com a possibilidade de trabalhar com Bill Ford e toda a restante equipa, no sentido de ajudar a criar uma Ford ainda mais dinâmica e vibrante ” -, a marca da oval anunciou ainda uma verdadeira dança de cadeiras, envolvendo alguns dos cargos de maior destaque na estrutura do fabricante. A começar, desde logo, pela chamada de Jim Farley, de 54 anos e até aqui presidente da Ford Europa, Médio Oriente e África, para o cargo de vice-presidente executivo e presidente para os Mercados Globais.

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A par de Farley, também Joe Hinrichs, de 50 anos e actual presidente da Ford América do Norte, foi chamado para outra das vice-presidências executivas do grupo, passando a assumir a liderança das Operações Globais.

Finalmente, Marcy Klevorn, 57 anos, até aqui vice-presidente para a informação tecnológica, foi a escolhida para assumir as funções desempenhadas por Jim Hackett, à frente da Ford Smart Mobility, ao passo que Mark Truby, 47 anos, que até aqui geria as comunicações da companhia para a Ásia Pacífico, passa a ocupar a vice-presidência para as Comunicações. Substituindo, assim, Ray Day, que já havia planeado retirar-se durante o próximo ano, mas que, na sequência desta reformulação, aguardará o momento da saída prestando serviços de consultoria no seio da companhia.

“Estamos a partir de uma posição de força com o objectivo de transformar a Ford para o futuro”, comentou já o chairman da Ford, defendendo que “Jim Hackett é o CEO certo para liderar” a marca “durante este período de transformação para a indústria automóvel e com vista a um espaço de mobilidade mais amplo”.

Entre as prioridades já definidas para o mandato de Jim Hackett estão, segundo o fabricante, o aumentar da eficiciência operacional da companhia, a modernização do negócio da Ford e a transformação da empresa de forma a conseguir enfrentar os desafios do futuro.

Mark Fields: de visionário a mal-amado

Mark Fields, o CEO de 56 anos que acaba foi despedido, deixa a companhia numa altura em que, segundo a Automotive News Europe, era alvo de forte pressão, devido à queda no valor das acções e a lucros até ao momento abaixo do expectável. Sendo que vários membros do conselho de administração haviam já, inclusivamente, confrontado o gestor devido à sua estratégia, nomeadamente no que toca aos fortes investimentos na condução autónoma e na tecnologia do veículo eléctrico.

Entre as maiores críticas feitas a Fields estavam não só o facto de as acções da companhia terem caído cerca de 40%, desde que assumiu, em Julho de 2014, o lugar então ocupado por Alan Mullally, mas também o despedimento de 1.400 trabalhadores nos EUA, ao mesmo tempo que continuava a investir naquilo que designava de “oportunidades emergentes”. Opções que não terão sido muito bem vistas por vários sectores da companhia, que com o seu descontentamento poderão ter contribuído para o agora anunciado despedimento de Mark Fields.