O especialista em redução do desperdício alimentar Tristram Stuart incentivou esta quinta-feira a denúncia dos supermercados que destroem comida que sobra, impedindo o aproveitamento, defendendo que, se forem pressionados, “passam a concorrer entre eles” na doação de alimentos.

Se todos pressionarem, se forem denunciados, com divulgação de fotos”, na internet e na comunicação social, os supermercados “vão concorrer entre eles para doar o desperdício”, afirmou Tristram Stuart, que participou na National Geographic Summit 2017, que decorreu em Lisboa.

Tristram Stuart alertou para o facto de ser indispensável reduzir o desperdício, que daria para alimentar as pessoas com fome no mundo, e falou contra a necessidade de aumentar a produção de alimentos, com consequente sobre-exploração dos recursos naturais, destruição da natureza, utilização de grandes quantidades de água, poluição e subida das emissões de gases com efeito de estufa.

No período de perguntas e respostas, uma rapariga disse já ter trabalhado num supermercado em que se destruía os alimentos em que sobravam em cada dia, de modo a evitar que fossem recolhidos e questionava se não será possível obrigar a mudar esta prática.

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Tristram Stuart referiu que os casos de destruição de alimentos, por vezes com lixívia, não acontece só em Portugal e, em alguns países, como o Reino Unido, foi possível alterar comportamentos das cadeias de distribuição, obtendo a sua colaboração, realçando que não há informação sobre empresas que foram multadas por terem doado alimentos.

O ativista salientou já existirem várias iniciativas a apostar na redução do desperdício, incluindo organizações que recolhem as sobras de restaurantes e supermercados, ou aproveitam fruta e legumes que não cumprem as regras da “normalização”. Apontou os exemplos da Refood e da Fruta Feia, em Portugal.

Para Tristam Stuart – que fundou a organização Feedback, que já trabalha em 12 países para mudar a atitude da sociedade – “reduzir o desperdício de alimentos é uma forma deliciosa de poupar dinheiro, ajudar a alimentar o mundo e proteger o planeta”. E criticou muitas empresas produtoras de alimentos, como a Coca-Cola que “só está a satisfazer as necessidades que criaram”, ou a Monsanto que defende ser indispensável duplicar a produção de comida para responder ao aumento da população mundial.

Para o especialista, que desenvolveu várias atividades e formas de contrariar o desperdício, não tem de ser assim, já que os alimentos produzidos serão necessários para satisfazer as necessidades nutricionais dos habitantes no planeta.

Com base em estudos efetuados, concluiu que “há grande uma diferença” entre a quantidade de alimentos produzidos e aquela de alimentos consumidos, assim como entre o que é consumido e aquilo que é necessário, em termos de nutrientes, o que reflete o desperdício.