A comunidade muçulmana moçambicana espera um Ramadão “com mais solidariedade” para ajudar a enfrentar a crise financeira e económica que assola o país. “No dia-dia, nota-se que as dificuldades aumentaram e as pessoas acabam caindo aqui nas nossas instalações”, na avenida Eduardo Mondlane, no centro de Maputo, disse à Lusa o porta-voz da comunidade, Yussuf Ravat, em vésperas do início do Ramadão, a partir do por do sol desta sexta-feira.

Embora sem conseguir quantificar quantas pessoas buscam auxílio, o que pode dizer é que há maior procura agora: “E nós, dentro do que podemos, tempos trabalhado um pouco como bombeiros”. A comunidade muçulmana tem um grupo de ação humanitária que se desdobra em várias frentes.

“Trabalhamos com estudantes, doentes e desfavorecidos. Também temos instalado fontenários de água e, neste momento, temos um projeto com o município para a assistência a mendigos”, descreveu à Lusa, quando questionado sobre os desafios que se colocam neste Ramadão.

O retrato é claro: as pessoas que “precisam de ajuda” são mais: “aumentaram muito devido à crise. Há pessoas que perderam o emprego” e outras que enfrentam novas carências. Yussuf Ravat apela assim para um mês de reflexão e de solidariedade.

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O jejum do Ramadão vai dar aos muçulmanos em Moçambique a “noção do sofrimento”, incentivando-os a ajudar os que precisam, espera.

Para responder ao aumento de pessoas que procuram ajuda, principalmente nas comunidades, a organização tem procurado “racionalizar os donativos que recebe e canalizar para os que mais precisam”.

“Sendo um mês de reflexão, devemos estar mais concentrados naquilo que são as nossas relações com as pessoas e também naquilo que são as nossas ligações com as comunidades”, explicou.

Moçambique tenta recuperar de uma crise económica marcada por um forte aumento do custo de vida, causado pela redução de exportações e do investimento externo, desvalorização da moeda e suspensão do apoio de parceiros internacionais devido ao caso das dívidas escondidas.

As calamidades naturais que afetaram o país no ano passado agravaram o cenário, deixando mais de milhão e meio de pessoas em situação de insegurança alimentar.

O Ramadão é nono mês do calendário islâmico e o quarto dos cinco pilares do Islão, sendo que, durante o período, os muçulmanos devem jejuar desde o nascer até ao por do sol.

Além do cristianismo, o islamismo é uma das religiões mais professadas em Moçambique, principalmente no norte do país, devido às influências do contacto com os povos árabes por volta do século VI, antes da chegada dos portugueses.