O artista plástico Julião Sarmento vai ceder a sua coleção pessoal, com mais de 1.200 peças, ao Pavilhão Azul, um novo Centro de Arte Contemporânea que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) vai criar, anunciou neste sábado a autarquia. De acordo com um comunicado do departamento de comunicação da CML, na segunda-feira vai ser assinado, às 11:00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, um protocolo de cedência entre a autarquia, pelo presidente, Fernando Medina, e o artista plástico.

O protocolo é assinado “no contexto da recuperação e devolução à cidade do Pavilhão Azul, na Avenida na Índia”, para acolher, uma coleção “de reconhecida qualidade e diversidade, que ficará em depósito no período definido pelo presente protocolo, naquele que será o novo centro de arte contemporânea de Lisboa, o Pavilhão Azul”.

Conhecido como Pavilhão Azul, o edifício, localizado na Avenida da Índia, próximo do Centro Cultural de Belém, é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa.

Em 2015, Julião Sarmento, 69 anos, um dos mais reconhecidos artistas portugueses, apresentou a exposição “Afinidades Eletivas”, com curadoria de Delfim Sardo, repartida entre o Museu da Eletricidade, e a Fundação Carmona e Costa, também em Lisboa.

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Fruto de uma parceria entre a Fundação EDP e a Fundação Carmona e Costa, a exposição mostrou 300 obras de uma centena de artistas da coleção particular de Julião Sarmento, menos de metade da coleção total. “Eu não sou um colecionador. Sou um artista que junta coisas. Comecei no liceu, com um desenho que troquei com o João Maria Mendes, o meu maior amigo naquele tempo, e que desenhava muito bem”, disse Julião Sarmento, na altura, aos jornalistas, numa visita guiada à mostra. Delfim Sardo definiu Julião Sarmento como “um recoletor ou respigador de imagens de livros, de filmes e de obras de outros artistas”.

A coleção privada do artista reúne obras em pintura, objetos, instalações, vídeos e esculturas de artistas portugueses e estrangeiros, que Julião Sarmento conheceu, fez amizade ou com quem conviveu nalgum momento da vida e trocou por peças da sua autoria, ou foram oferecidas.

Só cinco por cento das obras foram compradas, “em suaves prestações”, segundo o artista, que disse ainda nunca ter vendido nenhuma e gostar de todas, sem preferências: “Não gosto mais ou menos de nenhuma. Quando gosto é sempre da mesma forma. Tal como gosto de todos os meus filhos”.

Criada ao longo de mais três décadas, a coleção inclui obras de Joaquim Rodrigo, de quem Sarmento foi assistente, um retrato do artista feito por Miguel Barceló, que possui também o próprio retrato, criado pelo autor português.

Outros portugueses cruzaram a vida de Sarmento: De Álvaro Lapa, pode ver-se “Que horas são que horas (Os deuses antigos)”, de 1974; de Eduardo Batarda, “Thumbnails e Modelos”, de 2013; de Jorge Molder, “Mão tem de me dizer seja o que for”, de 2011; de Rui Chafes, “Vertigem V”, de 1988-1989; de Rui Sanches, “Julisa”, de 1996; de Fernando Calhau, seis peças em placas de aço quinado, de 1991.

Artistas estrangeiros também estão incluídos na coleção privada de Sarmento, como “Committee” (2000), de Andy Warhol, uma peça ‘sem título’, de Cindy Sherman (1990-1991), “Jimmy Paulette on David´s bike” (1991), de Nan Goldin, “Monocromo Japonês” (2000), da brasileira Adriana Varejão, ou “Dragon Head 6” (1989), de Marina Abramovic.