Era dia de decisões no Mundial Sub-20 com o Irão. No final da primeira parte, eles iriam para Portugal; no final da segunda parte, eles Irão aos oitavos-de-final. E passaram na segunda posição, cruzando agora com o anfitrião Coreia do Sul (segundo classificado do grupo A) na próxima terça-feira, às 12 horas portuguesas.

Mas vamos a este jogo, o melhor (ou único bom) da Seleção nesta prova. Primeiro minuto, ui! Que perigo! José Gomes, de regresso ao ataque nacional, teve uma oportunidade de ouro para inaugurar o marcador logo no início mas fez aquilo que só não aconteceu de penálti nesta competição: falhou. Outra vez.

Ao invés, o Irão foi bem mais prático nesse aspeto: aproveitando um erro de Ferro em zona proibida, Reza Jafari surgiu isolado frente a Diogo Costa e obrigou o guarda-redes nacional a uma grande intervenção para canto; na sequência desse lance, chegou mesmo o golo, com Reza Shekari a saltar sozinho ao primeiro poste para fazer o 1-0. E, de bola parada, havia quase sempre perigo para a baliza nacional.

Portugal falhava na frente, porque não marcava golos, e falhava atrás, porque não marcava bem os adversários. Mas o defeito maior esteve onde costuma estar a virtude, no meio. E Emílio Peixe, que voltou a trocar duas unidades do meio-campo em relação ao último jogo, substituiu Miguel Luís por Xadas logo aos 26 minutos. As coisas melhoraram, um bocadito, mas não o suficiente. E, ao intervalo, a Seleção estava no quarto lugar do grupo, a três pontos da zona de qualificação e com um saldo negativo de dois golos para limpar.

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Percebemos o que Peixe pensou em termos teóricos para este encontro. Aliás, ao intervalo, e como sábado de manhã custa sempre um bocado mais acordar, agarrámos num papel e começámos a tentar perceber isso com uns bonecos e uns rabiscos. José Gomes e André Ribeiro voltaram a ser titulares. São avançados móveis, que lá vão andando a tentar tirar o posicionamento da defesa contrária, mas desta vez, além do apoio constante do lateral Diogo Dalot (o melhor português na prova), tinham no corredor central Pedro Delgado, o fator desequilibrador que faltara antes. Mas depois há essa outra coisa chamada prática. E na prática, não corria bem.

Na segunda parte, tudo mudou. E mudou porque os jogadores perceberam que estava em causa a honra da Seleção e os seus trajetos. Estamos a falar de miúdos que brilharam nas equipas B, que já passaram pelo estrangeiro, que estiveram na final da Youth League. Mas que se preparavam para sair pela porta pequena. A verdade é esta: cada vez mais, a força mental ganha a qualquer fator técnico, tático ou estratégico. E Portugal quis ficar na competição.

Diogo Dalot, aos 46’, fez o primeiro remate com perigo. Diogo Gonçalves, aos 48’, ensaiou também a sua sorte. E Peixe quis entrar na brincadeira e também mexeu na coisa, tirando um central (Ferro) e lançando um ala (Hélder Ferreira). Tudo para a frente e fé em Deus. E em Diogo Gonçalves, já agora: foi dos pés do jogador que saiu o empate, aos 54’, com um fantástico remate em arco sem hipóteses para Adeli.

Portugal precisava de um golo para inverter a sua sorte (ou azar). E teve algumas oportunidades flagrantes, como um cabeceamento de Zé Gomes que era só encostar mas que saiu ao lado. Até o vídeo-árbitro ajudava a Seleção: depois da marcação de um penálti, o equatoriano Roddy Zambrano pediu para rever o lance e voltou atrás na decisão. Já não havia táticas nem estratégias. O Irão, que tinha dado o estouro, só queria defender. Portugal, fosse como fosse, até mais com o coração do que com a cabeça, só queria marcar. E foi num golo a meias entre Xande Silva (que fez o cruzamento) e o defesa iraniano Taheri (que desviou a bola e enganou o seu guarda-redes) que chegou o 2-1 e consequente passagem aos oitavos-de-final. O esforço para limpar a imagem tinha valido a pena.

Emílio Peixe, treinador principal que foi campeão mundial Sub-20 em 1991, já tinha caído ao chão a celebrar com Filipe Ramos, técnico adjunto que foi campeão mundial Sub-20 em 1989. No final, em novo abraço de campeões, estavam de lágrimas nos olhos. A passagem foi sofrida, muito sofrida, mas chegou. E diz-nos a história que, muitas vezes, é destas dificuldades que saem os campeões que ficam para a história. Veremos se será mesmo assim.

Nota: depois de acabar este jogo, percebemos que o Irão foi duplamente penalizado pelo vídeo-árbitro. Expliquemos: não só o penálti a seu favor contra Portugal deixou de existir após o visionamento das imagens como foi anulado um golo da Zâmbia frente à Costa Rica mesmo no final do jogo, que daria aos iranianos a passagem no terceiro lugar…