É a maior obra pública no Quénia desde que o país alcançou a independência em 1963. A linha férrea inaugurada esta quarta-feira liga a cidade portuária de Mombaça à capital, Nairobi, e há planos para que se estenda a vários países vizinhos. O financiamento de 3,2 mil milhões de doláres (cerca de 2,8 mil milhões de euros) foi totalmente assegurado pelo governo chinês.

O presidente do país, Uhuru Kenyatta, disse que o projeto assinala um novo capítulo na história do país. Avisou, também, que vai autorizar “a execução de vândalos” que danifiquem a linha, depois de quatro pessoas terem sido detidas a vandalizar partes do gradeamento.

Reconheço que a presidência me dá o direito de promulgar leis… Aqueles que foram encontrados a vandalizar a infraestrutura… Vou autorizar uma lei para que sejam enforcados.”

A nova linha prolonga-se por 470 quilómetros, e supostamente vai ligar países interiores (Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Ruanda, Burundi e Etiópia) ao Oceano Índico. Kenyatta assegurou na semana passada uma verba adicional de 3,6 mil milhões de dólares (3,2 mil milhões de euros) da parte do governo chinês para expandir a linha por mais 250 quilómetros, para ligar as cidades de Naivasha e Kisumu. Para o presidente Kenyatta esta ligação abre uma nova página na história pós-ocupação britânica:

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Uma história que começou há 122 anos quando os britânicos que colonizaram esta nação mandaram o comboio para o vazio… foi chamado o Expresso Lunático.”

O Expresso Lunático

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Já existe uma linha férrea que liga Mombaça ao Uganda e foi construída durante o período de ocupação colonial britânica. Inicialmente era projeto ambicioso de construir uma ligação estratégica em África. Mais de 2400 trabalhadores morreram na sua construção.

O termo “Expresso Lunático” foi cunhado por Charles Miller em referência aos inúmeros problemas que a linha apresentou: pontes de madeira instáveis, penhascos, custos elevados, tribos hostis, doenças e leões que atacavam os trabalhadores durante a noite. Foi um projeto polémico e fruto da ambição colonial britânica.

O custo do projeto foi alvo de críticas pelos partidos da oposição, que o consideram uma ambição muito cara e com um retorno económico “exagerado”. O governo defende-se explicando que precisa de investir em infraestruturas para atrair investimento estrangeiro.

O projeto levou três anos e meio a ser concluído e, ainda assim, foi terminado antes do prazo previsto. Foi construído com recurso a tecnologia chinesa de montagem de linhas (um sistema automático de construção).

Cerca de 450 quilómetros separam Mombaça de Nairobi. Contudo, uma viagem de autocarro entre as duas cidades demora nove horas, devido ao estado de conservação das estradas e dos parques naturais que contornam. Na antiga linha férrea o percurso levava 12 horas. A nova linha de Mombaça reduz o tempo de viagem até Nairobi para quatro horas e meia. Um bilhete de classe económica vai custar 900 xelins quenianos (cerca de oito euros).