Os aliados dos EUA, em todo o mundo, fizeram soar na quarta-feira campainhas de alarme à medida que o Presidente norte-americano dá sinais de querer retirar o país do acordo de Paris contra as alterações climáticas. O próprio Donald Trump manteve todos em suspenso sobre a questão de ficar ou sair, dizendo que estava a ouvir “muitas pessoas”, mas prometendo uma decisão para “muito em breve”.

Sair do acordo isolaria os EUA de uma série de aliados internacionais que passaram anos a negociar o acordo alcançado em dezembro de 2015 para combater o aquecimento global, através da dedução das emissões de gases com efeito de estufa em cerca de 200 Estados. O cenário da saída alinharia os EUA apenas com a Rússia, entre as economias industrializadas.

Líderes empresariais norte-americanos apelaram a Trump que se mantenha no acordo. Entre estes estão os de Apple, Google e Walmart. Até empresas das energias fósseis, como ExxonMobil, BP e Shell, defenderam a permanência dos EUA no acordo.

O antecessor de Trump, Barack Obama, decretou o acordo sem a ratificação do Senado. Uma retirada formal iria levar anos, preveniram vários peritos, uma situação que motivou o presidente da Comissão Europeia a minimizar Trump, na quarta-feira.

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O presidente norte-americano não “compreende a extensão” do acordo, apesar de os líderes europeus lhe terem tentado explicar o processo de saída “com frases simples e claras” durante a última semana.

Ao discursar em Berlim, Jean-Claude Juncker admitiu: “Parece que a tentativa falhou”, garantindo: “A noção de que ‘Eu sou Trump. Eu sou americano. América primeiro e vou sair’ não vai acontecer”.

Trump tem várias opções, apontaram peritos na área. Os objetivos de redução das emissões são voluntários, sem consequências reais para os países que falharem na sua concretização.

Isto significa que os EUA podem manter-se no acordo e escolherem não cumprir os objetivos. Os EUA concordaram em reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa, até 2025, entre 26% a 28% do nível de 2005, o que representa cerca de 1,6 mil milhões de toneladas.

“Pais, mais do que tudo, é um símbolo”, afirmou Nigel Purvis, que dirigiu a diplomacia climática norte-americana durante as presidências de Bill Clinton e George W. Bush.

Outra opção, afirmou o climatólogo Zeke Hausfather, professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley, seria a retirada da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, na qual o acordo de Paris está baseado, que poderia requerer apenas um ano.

A notícia da eventual decisão de Trump suscitou uma reação rápida da Organização das Nações Unidas (ONU). A conta da ONU da rede social Twitter citou o secretário-geral, António Guterres, a dizer: “As alterações climáticas são inegáveis. As alterações climáticas são imparáveis. As soluções climáticas propiciam oportunidades incomparáveis”.

Os cientistas preveem que a Terra atinja mais depressa níveis perigosos de aquecimento se os EUA saírem do acordo de Paris, porque os norte-americanos contribuem fortemente para a subida da temperatura.

Os cálculos sugerem que a retirada poderia resultar em emissões adicionais de três mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o suficiente para acelerar o degelo dos blocos de gelo, elevar o nível do mar e provocar mais eventos climatéricos extremos.

O diretor executivo do Sierra Club, Michael Brune, classificou a eventual decisão de Trump como “um erro histórico, que os nossos netos, quando olharem para trás, ficarão atordoados ao constatarem como é que um líder mundial podia estar tão divorciado da realidade e da moralidade”.

Antes de assumir a Presidência, Trump disse que as alterações climáticas eram uma falsidade inventada para prejudicar a economia norte-americana, uma afirmação que desafia o consenso científico.