O Governo de Moçambique deverá ganhar 16 mil milhões de dólares durante os 25 anos de exploração do projeto de gás natural Coral Sul, hoje lançado e classificado pelos promotores como apenas “um aperitivo”. “É um grande aperitivo. É um almoço, um jantar, mas preferimos chamar-lhe um aperitivo comparado com as reservas muito maiores que Moçambique tem”, referiu Claudio Descalzi, administrador delegado da petrolífera italiana ENI.

“Só a exploração Coral Sul vai dar contribuições para o Governo de 16 mil milhões de dólares”, divididos pelos 25 anos de atividade, relativos a receitas fiscais, ‘royalties’ e lucros com o negócio do gás. “Com o campo Mamba o valor pode chegar a 50, 60 mil milhões”, estimou Claudio Decalzi, fazendo referência a uma outra zona que o consórcio pretende explorar no futuro, dentro da área de exploração (Área 4) que lhe foi atribuída na Bacia do Rovuma, norte de Moçambique.

Aquele responsável falava hoje durante uma cerimónia em Maputo em que foram assinados os contratos que formalizam a decisão final de investimento do consórcio liderado pela Eni que inclui a petrolífera portuguesa Galp, a Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC), a sul-coreana Korea Gas (Kogas) e a moçambicana Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, todas representadas no evento.

Este consórcio vai investir 8 mil milhões de dólares para extrair gás natural de depósitos debaixo do mar, para uma plataforma flutuante que o vai transformar em líquido e exportá-lo em navios. Hoje começou a contagem decrescente: o primeiro carregamento de gás natural liquefeito está previsto para daqui a cinco anos.

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“Este empreendimento marca o início da transformação em dinheiro deste recurso estratégico de que Moçambique dispõe, embora de forma não imediata, mas a rede para tal esta bem lançada”, referiu o Presidente da Republica, Filipe Nyusi, presente na cerimónia de assinatura de contratos, As flutuações dos mercados internacionais e a crise no país obrigaram Moçambique a fazer “sacrifícios”, abdicando de receitas e posições no projeto para que eles não se atrasem mais, referiu o chefe de Estado.

No entanto, Nyusi acredita que a cerimónia de hoje muda a perceção de Moçambique, projetando maior confiança para os investidores internacionais. Por outro lado, apontou para o desafio de conseguir arrancar o país do grupo dos mais pobres do mundo para novos patamares de desenvolvimento, graças às receitas anunciadas.

O líder da Eni apontou o projeto Coral Sul como a maior decisão final de investimento do setor dos últimos três anos e que vai dar lugar à primeira plataforma de produção de gás natural líquido (LNG, sigla inglesa) de África. Tudo isto num projeto escrutinado por 15 parceiros de financiamento, pela petrolífera BP, que vai comprar toda a produção por 20 anos, e pela norte-americana Exxon que vai entrar no projeto.

Na base está uma área de exploração em que foram feitas as descobertas de gás natural mais importante do mundo nos últimos 15 anos, concluiu. A Eni East Africa (EEA) detém uma participação de 70% na Área 4, enquanto a Galp, a ENH e a Kogas detêm 10% cada.

Uma vez concluída uma transação já acordada entre a EEA e a Exxon Mobil, os interesses participativos a Eni e a Exxon Mobil devem ficar com 25% cada, cabendo 20% à CNPC, enquanto a Galp, a ENH e a Kogas continuarão a deter 10% cada. A norte-americana Anadarko Petroleum também planeia um investimento significativo na Bacia do Rovuma com um projeto orçamentado em 15 mil milhões de dólares, mas cuja decisão final de investimento ainda não foi anunciada.