O Grupo PSA, que inclui já as marcas Peugeot, Citroën e DS, dispôs-se, no início de Março, a pagar à General Motors (GM) qualquer coisa como 2.000 milhões de euros para que a Opel/Vauhxall também passe a fazer parte do seu portefólio. Mas, não obstante o acordo a que chegaram os conglomerados francês e norte-americano, tudo indica que vai demorar mais tempo do que o esperado até que o negócio, efectivamente, se realize.

O cerne da questão, ao que parece, estará no centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Opel, sedeado em Rüsselsheim, onde cerca de 7.700 funcionários trabalham no desenvolvimento dos seus novos modelos. E tudo porque a marca do raio pretende garantir que, mesmo depois de integrar de facto o Grupo PSA, não só permanecem intocados todos esses postos de trabalho, como poderá continuar a desenvolver os seus próprios modelos durante os três anos seguintes, com base em plataformas Opel criadas na era GM.

Pretensão que colide de forma evidente com o anúncio feito pela PSA há cerca de um mês, de que a nova geração do Corsa, que tem lançamento previsto para 2019, já não estaria assente numa base mecânica GM, antes recorrendo para o efeito à engenharia e ao banco de órgãos da PSA, de modo a garantir, tão cedo quanto possível, os pretendidos benefícios decorrentes das conhecidas economias de escala. Algo que o Observador teve a oportunidade de confirmar, in persona, junto de alguns responsáveis pelo referido centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que até sublinharam que os trabalhos nesse sentido já estariam em curso.

Mas há mais. Além de argumentar que será mais proveitoso prosseguir com o desenvolvimento do novo Corsa sem a intervenção dos membros do centro de Pesquisa e Desenvolvimento da PSA, composto por cerca de 13 mil colaboradores, a Opel também pretende tomar as rédeas do processo de criação do seu futuro SUV de médio porte, à partida assente na plataforma do novo Insignia.

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O plano original da PSA seria transferir, já durante esta semana, todos os activos da divisão europeia da GM para uma nova e recém-criada empresa, de seu nome Opel Automobile GmbH, mas a medida terá sido adiada por tempo indeterminado. Ainda assim, espera-se que o negócio possa ser, realmente, concretizado até ao final do ano, e do qual resultará o segundo maior construtor automóvel europeu, logo a seguir ao Grupo Volkswagen.

Olhó divórcio

“Estamos no bom caminho no que diz respeito à transição, embora ainda existam algumas questões em aberto que têm de ser esclarecidas”, declarou à imprensa o responsável de comunicação da Opel, Michael Goentgens. Adiantando que algumas iniciativas internas, de carácter informativo, originalmente agendadas para esta semana, tinham sido adiadas, mas que esperava que a tomada de posse pudesse estar completada durante o segundo semestre do ano.

Por saber está a posição da PSA relativamente a esta temática. Nomeadamente o que pensa sobre o assunto Carlos Tavares, para mais sendo o gestor português conhecido pelas suas ideias concretas, e pela firmeza com que costuma seguir o rumo por si definido nas organizações que lidera.

Recorde-se que a venda da Opel/Vauxhall, por parte da GM, foi forçada pelos accionistas do gigante americano, fartos dos prejuízos consecutivos que as suas marcas europeias vinham acumulando nos últimos 15 anos. E que se os americanos ainda tinham dimensão para suportar a gestão pouco eficaz da divisão europeia, o Grupo PSA, também ele a sair de uma situação financeira menos boa – o que os levou a vender uma parte do seu capital aos chineses para ultrapassar a crise – dificilmente poderá encaixar perdas do calibre que a Opel/Vauxhall tem gerado. Este é um “casamento” de conveniência que ainda pode correr mal, pois a “noiva” foi vendida ao “noivo” e este poderá não estar na disposição de perder tempo e dinheiro em negociações intermináveis.