Dez anos depois o seu afastamento do Banco Comercial Português (BCP), o fundador e ex-presidente Jorge Jardim Gonçalves regressou, em entrevista ao Público, aos acontecimentos no banco em 2007. E garantiu: “A pressão para meter no BCP gente da confiança do Governo era grande e vinha de todo o lado”.

Para Jardim Gonçalves, a guerra de poder dentro do banco, que o opôs, então presidente do Conselho Superior do maior banco privado português, a um grupo encabeçado por Joe Berardo e formado por Nuno Vasconcelos e Rafael Mora (Ongoing), António Mexia (EDP), Carlos Santos Ferreira (à data líder da Caixa Geral de Depósitos), os empresários Manuel Fino, Diogo Vaz Guedes, Bernardo Moniz da Maia e Filipe de Botton, e João Rendeiro (fundador do Banco Privado Português), foi provocada por políticos.

“Só mais recentemente percebi o que aconteceu naquele período, onde houve uma conjugação de ingredientes todos metidos no BCP para provocar uma guerra. E um deles, e muito importante, é o político. Não falo de um partido político, mas de um grupo de pessoas cobertas politicamente pelo PS e pelo PSD. Mas nem o CDS nem o PCP quiseram saber a verdade”, contou agora ao Público.

Questionado sobre o papel de Vítor Constâncio, então Governador do Banco de Portugal, no processo, Jardim Gonçalves foi evasivo: “O que sei é que o primeiro-ministro [José Sócrates] e o ministro das Finanças [Teixeira dos Santos] precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública. Mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública e o BCP era independente. E o BPI era pequeno. E o Governo precisava de dominar o BCP, o que só era possível com a nomeação de um presidente”.

“Só muito mais tarde é que foi possível perceber o que esteve por detrás das movimentações, dos rumores, das notícias na época e que culminaram na saída da CGD de três senhores [Carlos Santos Ferreira, Armando Vara e Vítor Fernandes] e à sua entrada no BCP. Pode ter a certeza de uma coisa: ninguém tira ou põe um presidente de um grande banco, como é o BCP ou a CGD, sem ter o apoio do Presidente da República, do primeiro-ministro, do ministro das Finanças”, continuou.

Sobre Carlos Santos Ferreira, que no final do ano e depois do seu afastamento passou a liderar o BCP não disse muito (ainda assim dizendo): “Ele não explica, não fala, não comenta. Mas não é um gestor ausente. E tinha uma boa relação com José Sócrates, com Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio. Mas não sei quem mandava em quem“.

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