Abençoadas boxes que permitem andar para trás em tempo real. Por acaso não foi o nosso caso porque estávamos já a fazer a ficha de jogo, mas de certeza que muitas pessoas, mesmo acordando mais cedo, não viram o primeiro golo. As atenções estão todas centradas em Londres, após mais uma noite de terror, e à hora certa ganham predominância os canais de informação para saber as últimas notícias do ataque terrorista. Foi aí que Xande Silva fez o 1-0 para Portugal frente ao Uruguai, que ainda não tinha sofrido golos no Mundial Sub-20.

Ficha de jogo

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Portugal-Uruguai, 2-2 (4-5, g.p.)

Quartos-de-final do Campeonato do Mundo Sub-20

Daejeon World Cup Stadium, na Coreia do Sul

Árbitro: César Ramos (México)

Portugal: Diogo Costa; Diogo Dalot, Rúben Dias, Jorge Fernandes, Yuri Ribeiro; Pedro Rodrigues, Pedro Delgado (Gedson Fernandes, 54′), Xadas; Diogo Gonçalves (José Gomes, 97′), Bruno Costa (André Ribeiro, 73′) e Xande Silva (Florentino Luís, 106′)

Treinador: Emílio Peixe

Uruguai: Santiago Mele; Santiago Bueno, Agustín Rogel, José Luis Rodríguez e Mathías Olivera; Marcelo Saracchi (Viña, 94′), Carlos Benavidez (Santiago Viera, 79′), Federico Valverde, Nicolás de la Cruz (Amaral, 79′); Agustín Canobbio e Nicolás Schiappacasse (Ardaíz, 104′)

Treinador: Fabián Coito

Golos: Xande Silva (1′), Bueno (16′), Diogo Gonçalves (41′) e Valverde (50′, g.p.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bruno Costa (14′), Yuri Ribeiro (90+4′), Canobbio (108′) e Diogo Dalot (112′)

Bastaram apenas 55 segundos para o avançado mostrar que filho de peixe sabe nadar. Ainda se lembra de Quinzinho, que jogou no FC Porto, na U. Leiria, no Rio Ave, no Rayo Vallecano, no Farense, no Desp. Aves, no Alverca e no Estoril antes de passar sete anos na China e acabar a carreira em Angola? Xande Silva, dianteiro que passou pelo Sporting antes de assinar pelo V. Guimarães, é o seu filho. E marcou na primeira oportunidade, conseguida numa recuperação de bola em zona adiantada pelo inevitável Bruno Xadas.

Pouco depois, Diogo Gonçalves, como é costume, tentou a meia-distância num movimento típico da esquerda para o meio mas a bola passou ligeiramente ao lado do poste (9’). No entanto, cedo se percebeu que o Uruguai era o adversário com mais futebol que Portugal tinha encontrado até ao momento. E depois das ameaças de De la Cruz (12’) e do avançado do Atl. Madrid B Schiappacasse (13’), os sul-americanos empataram mesmo na sequência de um canto, com o central dos juniores do Barcelona Santiago Bueno a empurrar para a baliza após um primeiro remate que embateu na trave da baliza de Diogo Costa (16’).

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Começou a um ritmo alucinante, mas foi murchando com o tempo. Bolas perdidas, falta de profundidade, um ou outro cruzamento perigoso mas para a terra de ninguém (ou dos defesas contrários). Se os 15 minutos iniciais foram fulgurantes, os 25 seguintes nem por isso. Até que Diogo Gonçalves quebrou essa monotonia com elevada nota artística, num fantástico golo de fora da área ao ângulo que deixou o treinador, Emílio Peixe, de mãos na cara.

E se Xande Silva é filho de Quinzinho, Diogo Gonçalves é filho de Vítor Jacob. Não conhece? Não tem problema, esta não era fácil: jogou em equipas mais modestas antes de passar a treinador. Mas é no miúdo que cedo deixou o Alentejo para residir no centro de estágios do Seixal que recaem todas as esperanças, depois de ter jogado no Almodôvar e no Ferreiras. Afinal, a UEFA já o tinha apontado como um dos maiores dez talentos a seguir no Campeonato da Europa Sub-19, que se realizou no ano passado, na Alemanha, e onde Portugal só caiu nas meias-finais por 3-1 frente à França de um tal de… Mbappé (que bisou nessa partida). Até a camisola 7 que enverga serve de comparação para a FIFA, que fala nos Bolas de Ouro Luís Figo e Cristiano Ronaldo.

Começou a segunda parte e o Uruguai voltou a empatar. Se no encontro com o Irão, que fechou a fase de grupos, o vídeo-árbitro acabou por “ajudar” a Seleção, anulando uma grande penalidade mal assinalada, agora confirmou, e bem, a decisão do juiz do encontro, após pisão de Yuri Ribeiro no pé de um adversário. O jogador do Real Madrid B Valverde, na conversão, apontou o 2-2. Diogo Costa, à semelhança do que tinha acontecido com a Costa Rica, ainda adivinhou o lado.

Gedson Fernandes entrou para o lugar de Pedro Delgado logo aos 54′, mas o conjunto celeste trazia a lição bem estudada do intervalo, bloqueando a primeira fase de construção de Portugal a meio-campo e não dando grandes hipóteses ao conjunto nacional de chegar junto à área contrária. Parecia haver mais receio em sofrer do que vontade em marcar. O Uruguai apostava nas bolas paradas, Portugal nos cruzamentos e na meia-distância. E Gedson Fernandes, aos 87′, viu Santiago Mele negar-lhe o 3-2 com uma fantástica defesa. Íamos mesmo para prolongamento, numa altura em que já se notava algum desgaste.

O prolongamento explica-se numa frase: o Uruguai deu a iniciativa a Portugal tentando (sem sucesso) sair em transições rápidas, a Seleção Nacional ia tentando procurar o melhor caminho para o golo sem se expor em demasia ao adversário. André Ribeiro, aos 93′, teve um remate enquadrado para defesa de Mele, Valverde atirou perto do poste aos 113′ e pouco mais. Seguia-se o desempate por grandes penalidades. Lotaria ou não, alguém ficaria com a taluda premiada para as meias-finais com a Venezuela, que tinha vencido os Estados Unidos. E depois do vídeo-árbitro e da quarta substituição no prolongamento, mais uma novidade: a ordem A-B-B-A na marcação dos castigos máximos do desempate.

Rúben Dias marcou, 1-0 (com alguma sorte à mistura). Valverde marcou, 1-1 (num foguete sem hipóteses). Rodríguez marcou, 1-2 (bem colocado). Diogo Dalot marcou, 2-2 (boa bola, a bater na rede lateral). Xadas marcou, 3-2 (apesar de Mele quase ter tocado na bola). Canobbio marcou, 3-3 (enganando Diogo Costa). Ardaíz marcou, 3-4 (remate quase ao ângulo). Gedson Fernandes marcou, 4-4 (clássico bola para um lado, guarda-redes para outro). Pedro Rodrigues falhou, 4-4 (defesa de Mele). Rodrigo Amaral falhou, 4-4 (atirou por cima). Vina falhou, 4-4 (acertou um míssil na trave). Zé Gomes falhou, 4-4 (defesa de Mele). André Ribeiro falhou, 4-4 (defesa de Mele). Bueno marcou, 4-5 (batido bem para cima). E a sorte acabou por sorrir ao Uruguai, apesar de Portugal poder ter matado o encontro num desempate verdadeiramente de loucos…