Leo Varadkar é a face visível da mudança geracional em marcha na Irlanda — e uma que será mais difícil de travar agora que o primeiro-ministro do país é assumidamente homossexual e um defensor da descriminalização do aborto: duas posições quase radicais num país dominado durante décadas pela sua natureza conservadora.

Varadkar sucede a Enda Kenny, que se tornou primeiro-ministro pelo partido conservador de centro-direita Fine Gael em 2011, apenas um ano depois da liberalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, no primeiro país do mundo a modificar a lei através da realização de um referendo. As coisas estão a mudar e Varadkar, com 38 anos, têm muito tempo à sua frente para liderar a equipa de arquitetos dessa mudança.

Filho de uma irlandesa e de um indiano, que emigrou para o Reino Unido ainda nos anos 60, Varadkar começou a fazer história em 2015, quando reconheceu publicamente a sua homossexualidade — o primeiro político a fazê-lo na história da Irlanda. “Isso não é algo que me defina. Eu não sou um político indiano ou um político médico, ou um político gay. É apenas parte de quem eu sou, do meu caráter, mas não me define”, disse Varadkar na altura em que decidiu assumir-se.

Médico de profissão, Varadkar nasceu em 1979 e foi educado numa escola privada nos subúrbios endinheirados de Dublin. No fim da Universidade, tendo já sido presidente da ala jovem do Fine Gael que agora dirige, foi estagiário no Senado norte-americano e voltou revoltado com os preços (“É tudo caro como o c****** aqui”, escreveu na altura no seu blog) mas muito entusiasmado com o dinamismo da política, nos antípodas do que se passava na sua nativa Irlanda: “A polícia na Irlanda é dominada por um monte de velhadas, muitos deles perderam a sua paixão e a sua crença na política há muitos anos”, escreveu também na altura, relembra a revista britânica New Statesman.

Apesar das suas pegadas mais liberais, na área dos valores e das tradições, Varadkar já foi apelidado de “thatcherista” pelos seus críticos já que defende o fim das greves nos serviços essenciais ao funcionamento da sociedade, ações mais fortes de fiscalização a quem pede subsídios “batoteiros”. Apesar de ter prometido um referendo para legalizar o aborto em alguns casos, não apoia que ele se faça “por pedido”, tal como defendeu uma Assembleia de Cidadãos irlandeses em Abril.

A comunidade LGBTQ irlandesa já fez saber que apoia Varadkar: “Eu acho que é realmente significativo que tanto o partido como os meios de comunicação se concentrem em suas políticas, e consigam ver para além do facto de ele ser um homem gay, disse Brian Finnegan, o editor da revista Gay Community News.

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