O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa disse numa entrevista à SIC que “não quero ser banqueiro nem bancário” apesar do respeito que tem “por ambas as profissões”. As afirmações de Santana Lopes demonstra a cautela com que o ex-primeiro-ministro está a analisar a possibilidade da instituição de solidariedade social tornar-se acionista do banco Montepio Geral.

Tudo porque Santana considera que os riscos da entrada da Santa Casa no capital do Montepio são “consideráveis” e o principal objetivo da organização que dirige é “a ação social”. “Se houver risco considerado intolerável não entra”, avisa o provedor.

São declarações cautelosas que surgem após o jornal Expresso ter noticiado este sábado que Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, já se tinha reunido com Santana Lopes e apresentado razões de “interesse nacional” para a entrada da Santa Casa no Montepio. No seu espaço de comentário ao domingo à noite na SIC, Luís Marques Mendes avançou então que esta entrada é “muito provável”. O provedor da Santa Casa não foi tão categórico.

Santana Lopes confirmou que estão a ser feitas diligências com a ajuda de consultores, auditores, analistas financeiros e outros profissionais para perceber como poderá ser feito um possível investimento na caixa económica.

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De acordo com o que tem sido noticiado, estará em cima da mesa a aquisição de uma participação de até 10%, ou seja mais de 140 milhões de euros o que poderia absorver 18% do património da Santa Casa.

São números que merecem cautela Santana Lopes, o mesmo acontecendo com a posição atual do banco nas agências de notação financeira — e que levaram o dirigente garantir que a instituição “não entra em aventuras”.

Mais: se não tivesse sido contactada nesse sentido “a Santa Casa não entraria no negócio do Montepio por livre iniciativa”. Contudo, Santana Lopes reconheceu que a Santa Casa “tem disponibilidades financeiras consideráveis” e que ter ativos financeiros parados, tendo em conta as baixas remunerações pagas pela banca pelos depósitos, pode não ser a melhor solução.

O provedor afirmou ainda que a entrada no capital do Montepio se enquadraria num projeto amplo de reestruturação do setor social e que o investimento só faria se nesse projeto “entrassem outras entidades da economia social”, o que que permitiria uma participação “à medida das possibilidades” da Santa Casa.

Santana Lopes aproveitou ainda para criticar a imprensa especializada por avançar “um cenário em que na prática [o negócio] já está fechado ou praticamente fechado”. Uma coisa “é a vontade de muitos responsáveis nacionais” outra coisa “é a avaliação do negócio”.

E desengane-se quem pensa que Santana Lopes precisa de pressão para o ajudar a decidir. “Sob stress não decidimos. Se querem, deem-nos tempo”, disse o provedor. Até porque “o interesse nacional é a Santa Casa não ser prejudicada”, concluiu.

Apesar da cautela, Santana Lopes não quis deixar de recordar um facto histórico: “A Santa Casa já teve participações em instituições financeiras. Já teve, por exemplo, 10% de uma Imoleasing”, referindo-se a uma sociedade de locação financeira imobiliária do Grupo Caixa Geral de Depósitos. Mas avisa: “Só se entrarem muitas entidades da economia social é que a Santa Casa entra” no Montepio.