Em 2010, dava-se o enlace. A Toyota adquiria 3% do capital da Tesla, por cerca de 45 milhões de euros, e ainda vendia à marca californiana, por quase 37 milhões de euros, a então desactivada fábrica de Fremont (anteriormente detida por uma joint-venture formada pela casa japonesa e pela General Motors). No entretanto, os dois construtores desenvolveram no Canadá uma versão eléctrica do RAV4 da época, de que acabaram por vender cerca de 2.500 exemplares.

Agora, que tem em marcha o seu próprio programa de desenvolvimento de veículos eléctricos, a cargo de uma nova divisão criada especialmente para o efeito, o maior fabricante do mundo anunciou ter vendido, no final do ano passado, o que ainda lhe restava da sua participação no seu congénere norte-americano, depois de ter alienado parte da mesma em 2014. Medida que ditou, também, o cancelamento oficial dessa parceria de desenvolvimento conjunto de veículos elétricos, e que, segundo um porta-voz da Toyota, se enquadrou na revisão dos seus investimentos, que a marca leva a cabo de forma periódica: “A nossa parceria de desenvolvimento com a Tesla acabou há algum tempo, e desde então não existiram quaisquer avanços nessa matéria, pelo que decidimos que era tempo de vender a participação remanescente.”

Em Março de 2016, segundo o Financial Times, a Toyota ainda detinha 2,34 milhões de acções da Tesla (cerca de 1,42% do capital da empresa), inscritas no seu balanço por um pouco menos de 430 milhões de euros. E terá sido, aproximadamente, este o valor porque acabou por vendê-las, não deixando, assim, de realizar uma interessante mais-valia. Mesmo sabendo-se que, já em 2017, as acções da Tesla subiram vertiginosamente, e o encaixe podia ter sido bastante superior.

Ainda assim, para esta decisão não terão deixado de contribuir outros factores, como os recorrentes choques culturais entre as duas empresas: a Toyota com a sua postura mais segura e conservadora, a Tesla com uma abordagem mais assente no risco.

É de crer, igualmente, que não tenha sido vista com bons olhos pelos japoneses a abertura, por parte da Tesla, de um concessionário em Nagoya, a sua cidade natal – ao mesmo tempo, um sinal da transformação acelerada da Tesla de uma startup num operador de nível global. E, para quem conhece minimamente a cultura nipónica, é de imaginar que também não tenha caído propriamente bem junto da Toyota que Elon Musk tenha considerado como “disparatada” a sua decisão de manter a aposta no hidrogénio e nas fuel-cells, por continuar a duvidar do potencial das baterias para assegurar a mobilidade do futuro…

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR