Youseff Zaghba, o mais novo dos três atacantes de Londres, conseguiu entrar no Reino Unido mesmo depois de no ano passado ter dito à polícia, quando foi parado no aeroporto de Bolonha ao preparar-se para seguir para a Turquia, que “queria ser um terrorista”, escreve esta quarta-feira o diário britânico The Telegraph.

Zaghba estava referenciado pelas autoridades e Itália terá mesmo informado o MI5 (serviços de informações domésticas) e o MI6 (serviços de espionagem internacional) da ameaça.

De acordo com o jornal, Zaghba estava numa lista internacional de potenciais suspeitos de terrorismo desde que, no ano passado, tentou viajar para a Síria e foi apanhado pelas autoridades italianas. Na altura, o jovem dirigia-se para a Turquia, mas as autoridades perceberam que o destino final era a Síria, impediram-no de seguir viagem e inscreveram-no na lista mundial de observação de potenciais terroristas.

Zaghba foi detido no aeroporto de Bolonha no dia 15 de março de 2016. Segundo o The Telegraph, tinha um bilhete apenas de ida para Istambul e um pequeno saco de viagem. Desconfiados do motivo da viagem, os agentes da polícia italiana detiveram-no para o interrogar.

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No seu telemóvel, as autoridades descobriram vídeos e fotografias relacionados com o Estado Islâmico — entre os quais a bandeira do Estado Islâmico e um vídeo de prisioneiros a serem decapitados no deserto. Interrogado pela polícia, respondeu: “Vou-me embora para ser um terrorista”. Resultado: ficou logo detido.

Mas a detenção não durou muito tempo: o tribunal considerou que não havia provas para manter Zaghba detido e acabou por libertá-lo. Também os dispositivos eletrónicos que tinha consigo lhe foram devolvidos, por não haver motivos para os manter confiscados. Um procurador italiano citado pelo The Telegraph explica que “não havia provas que sugerissem que algum crime tivesse sido cometido”.

O mesmo procurador, que lidou de perto com o caso, garantiu que as suspeitas foram comunicadas a Londres. “Num ano e meio ele esteve em Itália apenas por 10 dias e foi sempre seguido pelas forças especiais”, assegurou. Além de inscrito nas listas de observação das autoridades italianas, o nome de Zaghba foi também colocado na base de dados da União Europeia — o sistema de informações do espaço Schengen.

Mas tudo isto — nem mesmo o facto de ter afirmado que queria ser terrorista quando foi interrogado pela polícia no aeroporto de Bolonha, — não foi suficiente para impedir Zaghba de entrar no Reino Unido, onde foi um dos autores do atentado de sábado. Esta e outras informações têm levado a primeira-ministra, Theresa May, a enfrentar diversas questões sobre a eficácia dos serviços de informações do país.

É que Zaghba não era o único dos três terroristas a já estar referenciado pelas autoridades. Khuram Butt já tinha sido condenado, sob caução, por ter atacado um homem. Ao mesmo tempo, soube-se que Rachid Redouane já tinha pedido asilo no Reino Unido em 2009, pedido que foi recusado — mas conseguiu manter-se no país sem que as autoridades o percebessem.

Recentemente, Theresa May anunciou a sua intenção de apertar o controlo aos potenciais suspeitos de terrorismo, nomeadamente ao nível da entrada nas fronteiras do país e da utilização da Internet para divulgação de propaganda terrorista.