Muito se tem comparado a postura de Donald Trump enquanto Presidente dos Estados Unidos da América com o Donald Trump dos tempos dos reality shows e dos casinos em Atlantic City. A verdade é que, para quem o conhece há décadas e trabalhou com ele nas suas muitas empresas, restam poucas dúvidas: o homem que está hoje à frente do Governo norte-americano é exatamente o mesmo que levou os seus múltiplos negócios à falência.

Impulsivo e vingativo, Trump sempre foi um gestor hesitante, com pouca visão estratégica, que sempre preferiu rodear-se de fieis seguidores em vez de bons especialistas. Raramente procurava o conselho de terceiros e, na hora de tomar decisões, contava apenas com a sua própria opinião — a única que verdadeiramente importava. Os outros tinham apenas de obedecer, caso contrário, eram afastados.

Artie Nusbaum foi um dos responsáveis pela construção da Trump Tower, em Nova Iorque, e lembra-se bem da forma como o atual presidente norte-americano geriu o projeto. Ou melhor: como não geriu. “Ele apenas deixa que as coisas aconteçam”, contou ao Politico. Louise Sunshine, que trabalhou com Donald Trump na Trump Organization, o conglomerado internacional sediado na Trump Tower, durante 15 anos, garante que Trump sempre foi especialista em criar “caos e confusão”. Sobre a postura na Casa Branca, afirma que é exatamente a mesma.

Acho que ele é o mesmo Donald Trump que conheci quando comecei a trabalhar para ele. O mesmo estilo de gestão”, disse Louise Sunshine.

Um bom exemplo da forma como o atual governante sempre geriu os seus investimentos é a história relatada ao Politico por Bruce Nobles, antigo presidente da companhia aérea Trump Shuttle. Nobles — que durante os anos que trabalhou na Trump Shuttle aconselhou Donald Trump em diversos momentos — contou ao ao jornal que o ex-apresentador de televisão sempre insistiu em gerir os três casinos de Atlantic City separadamente. “Quero que aqueles tipos estejam a competir entre si. Acho que isso vai torná-los mais fortes”, dizia-lhe. Nobles, por outro lado, sempre insistiu no contrário. E como se sabe, os casinos acabaram por encerrar.

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“Não existe um rumo, uma ideia concreta. Apenas diz: ‘Faz isto‘”

Barbara Res, antiga vice-presidente executiva da Trump Organization, trabalhou diretamente com Donald Trump nos anos 80 e 90. “Ele tem uma ideia e diz: ‘Faz'”, lembrou ao Politico. “Não existe um rumo, uma ideia concreta. Apenas diz: ‘Faz isto. É como uma corrente de pensamento.” Para o biógrafo Tim O’Brien, é claro: Trump “não é um gestor”. “É um performer que faz de conta que é um grande gestor.” Mas gosta de levar a sua avante, como mostra uma das muitas histórias caricatas relacionadas com o atual Presidente norte-americano.

Ele consegue desarmar as pessoas. Já o vi entrar em salas cheias de pessoas prontas a matá-lo — grupos comunitários, políticos, empreiteiros — e, no espaço de cinco minutos, tinha as pessoas a comer nas suas mãos”, contou Billy Procida, antigo vice-presidente da Trump Organization. “Ele é um filho da mãe charmoso.”

Nos anos 90, Donald Trump alugou os escritórios que tinha num arranha-céus em Wall Street a uma firma de advogados. Quando deixaram de pagar a renda e se recusaram a abandonar o edifício, Trump tomou medidas drásticas: cortou os elevadores que davam acesso ao 52º andar (onde ficavam os escritórios) e desligou o ar condicionado. O episódio foi relatado pelo próprio Trump numa entrevista ao Washington Post, em junho do ano passado. “Eram muito espertos”, disse, acrescentando que conseguiu fazer com que a firma pagasse o que lhe devia e saísse do prédio.

Além disso, quando não fazem o que quer, não tem qualquer problema em lançar ameaças. Em abril, antes da votação que aprovou a reforma do Obamacare, Mark Sanford, que tinha dúvidas quanto à alteração da lei, recebeu no seu gabinete um emissário do Presidente que lhe disse que este “esperava que votasse contra” para ter uma razão para o afastar do cargo. De acordo com o senador, Trump “fez este tipo de ameaças a outros membros” da Câmara dos Representantes.

Foi também durante este período que Mark Meadows, líder do Freedom Caucus (um caucus composto por membros conservadores da Câmara dos Representantes) foi diretamente ameaçado. Durante um encontro de republicanos, Trump disse-lhe que se o caucus não apoiassem a reforma de saúde, que iria atrás dele. “Não acho que seja produtivo para a sua própria agenda legislativa. Ninguém fica contente quando o Presidente dos Estados Unidos diz ‘quero deitar-te abaixo'”, contou ainda Mark Sanford ao Washington Post.

Michael D’Antonio, autor de The Truth About Trump (2016), acredita que a “combatividade” é uma das características do Presidente norte-americano. “Ninguém gosta de ser criticado. Nunca conheci ninguém que goste, uns lidam melhor com isso do que outros. E Donald Trump não sabe lidar, de todo, com isso”, afirmou ao Politico. “Ele limita-se a responder quando é criticado.”