O Governo cabo-verdiano elogiou esta quinta-feira as medidas do banco central (BCV) para aumentar o crédito à economia e reduzir as taxas de juro e prometeu criar um sistema de garantia parcial para facilitar o acesso ao financiamento.
O banco central de Cabo Verde (BCV) anunciou na segunda-feira um corte de dois pontos percentuais na taxa diretora, que passa de 3,5% para 1,5%, e de cedência de liquidez, que desce dos 6,5% para os 4,5%.
O corte entrou em vigor no dia seguinte e visa aumentar o crédito à economia e reduzir as taxas de juro no país, onde os bancos comerciais terão acesso a dinheiro mais barato, sendo expectativa do banco central que façam repercutir esses cortes nos empréstimos aos clientes.
Em reação esta quinta-feira, o ministro das Finanças de Cabo Verde, Olavo Correia, disse que as medidas foram tomadas no “sentido positivo” e enalteceu a “coragem” do BCV em reduzir as taxas diretoras em 200 pontos base.
“É um sinal muito importante para bancos comerciais no sentido de baixarem as taxas de juro”, afirmou o ministro, que falava à imprensa, na cidade da Praia, à margem de uma reunião do Conselho Coordenador do Millennium Challenge Account (MCA), que gere o segundo pacote de ajuda dos Estados Unidos a Cabo Verde.
O ministro salientou, porém, que apenas as medidas do banco central vão alterar tudo, indicando que o Governo vai criar as condições para facilitar o acesso ao financiamento às empresas e às famílias.
“O Governo irá intervir ao nível da criação de mecanismos de sistema de garantia parcial para que tenhamos instrumentos que possam permitir que o setor privado tenha acesso ao financiamento mais barato”, prometeu, dizendo que o sistema entrará em vigor “rapidamente”.
“Isso vai permitir com que tenhamos melhores condições para facilitar o acesso ao financiamento por parte das empresas para que possamos estimular o crescimento económico, a geração de emprego, mas também melhorar a condição de vida dos cabo-verdianos”, mostrou.
Reafirmando a importância das medidas anunciadas pelo BCV, Olavo Correia disse que servirão para dinamizar a economia e ajudar o Governo a alcançar a meta de crescimento de 7% e duplicar o rendimento das famílias numa década.
A última redução de taxas decidida pelo BCV ocorreu em 2015, mas os efeitos na economia ficaram aquém do esperado, pelo que o banco central decidiu anunciar novo pacote, esperando que sejam criados os instrumentos para aumentar o crédito à economia.
Vários economistas e analistas cabo-verdianos também elogiaram as medidas do BCV, mas mostraram-se pouco otimistas quanto aos seus efeitos práticos num mercado bancário pouco concorrencial.
“Faltou, contudo, uma medida que considero fundamental para promover mais concorrência entre os bancos e assim aumentar o impacto dessas medidas para o consumidor: remover as barreiras à mobilidade de clientes entre bancos”, escreveu o economista Paulino Dias na sua conta pessoal no Facebook.
Considerando também a decisão do BCV acertada, o presidente da Câmara de Comércio do Barlavento (CCB), Belarmino Lucas, disse, entretanto, que é preciso trabalhar em toda a cadeia de financiamento para que as medidas se traduzam em consequências práticas para a economia.
“Essa simples descida das taxas, da forma como funciona o nosso sistema financeiro, não implica, automaticamente, mais crédito à economia e crédito mais barato à economia”, disse Belarmino Lucas, citado pelo Expresso das Ilhas.