Pode o “hard Brexit” (estratégia dura de negociação) de Theresa May ficar mais suave? Um “soft Brexit” será um ponto incontornável num acordo com o Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla britânica), para viabilizar um Governo minoritário conservador. Os unionistas não querem, contudo, um solução de exceção para a Irlanda do Norte na negociação do Brexit.

A principal prioridade da líder do DUP será evitar uma fronteira fechada entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, que está na União Europeia e no euro. Arlene Foster tem falado publicamente contra a abordagem mais dura da primeira-ministra britânica, ainda que o DUP seja favorável ao divórcio com a UE.

“Ninguém quer ver um “hard Brexit“, o que queremos é um plano viável para sair da União Europeia e foi isso que saiu da votação nacional. Logo, temos de nos manter nesse caminho”.

E isso, para Arlene Foster, quer dizer respeitar as circunstâncias específicas da Irlanda do Norte e, claro, “a nossa história e geografia partilhadas com a República da Irlanda”. A fronteira entre os dois países praticamente desapareceu depois do acordo de paz para a Irlanda de Norte e o regresso a uma separação poderia constituir uma ameaça à paz e prosperidade da ilha, argumentam os governantes de Belfast.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Irlanda do Norte foi uma das regiões do Reino Unido que votou claramente a favor da manutenção do Reino Unido na União Europeia no referendo de junho do ano passado, com uma percentagem de 56%.

O DUP não quer, contudo, qualquer estatuto especial para a Irlanda do Norte, no quadro da negociação do Brexit, separando as águas em relação às exigências do Sinn Féin, partido separatista da Irlanda do Norte, receando o isolamento da região face ao resto do Reino Unido. Esta condição foi sublinhada pelo líder dos unionistas no Parlamento em Londres. Nigel Dodds refere que o partido não quer fazer um negócio separado do resto do Reino Unido que mantenha a Irlanda do Norte com um pé dentro da União Europeia.

Manter atualização de pensões e subsídio de aquecimento

Uma análise do Daily Telegraph admite que as exigências do DUP podem ainda passar pelo abandono de duas das medida controversas do programa apresentado pela primeira-ministra britânica — o travão ao mecanismo de atualização das pensões e a sujeição a uma condição de recursos na atribuição do subsídio estatal para o combustível de aquecimento. Este subsídio, que pode ir até às 300 libras (quase 350 euros) por ano, é pago indiscriminadamente e beneficia sobretudo os mais velhos.

Com uma política alinhada ao centro-direita, e nessa medida mais próxima dos tories, os unionistas também têm exigências sociais, com um programa que defende a criação de mais empregos, o aumento dos rendimentos, a proteção dos orçamentos familiares, a subida dos padrões de educação para todos e mais investimento em infraestruturas, ainda que proponha igualmente uma priorização das despesas com os serviços de saúde.

No lado dos costumes, o partido tem uma agenda muito conservadora. É a principal força pró-vida no Reino Unido, lutando contra o direito das mulheres ao aborto, e opõe-se ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O DUP é o maior partido unionista, defensor da manutenção da Irlanda do Norte no Reino Unido Tem relativamente pouca expressão na Câmara dos Comuns, com apenas dez deputados. Mas, depois do resultado das eleições de quinta-feira, estes poucos deputados passaram a ser decisivos para garantir uma maioria parlamentar a um Governo minoritário dos conservadores. Um jackpot depois de terem perdido dez lugares nas últimas eleições para o Parlamento regional, em março, o que lhe retirou poder para vetar algumas reformas.

Isso mesmo reconheceu Jeffrey Donaldson, líder parlamentar do DUP já esta manhã em declarações à BBC.

“Este é um território perfeito para o DUP porque é evidente que os conservadores ficaram à beira de conseguir a maioria (por quatro deputados), o que nos coloca numa posição negocial muito forte”.

O apoio dos unionistas deverá ficar-se pelo Parlamento, na viabilização de um executivo minoritário dos conservadores.

De ator relativamente secundário na política nacional inglesa, o novo protagonismo do DUP já fez disparar as pesquisas no Google por informação do partido, que subiram 29% a partir desta madrugada, quando se tornou evidente que as eleições resultaram num Parlamento “pendurado” (hung parliament).