É para rir ou é para chorar? Nas eleições britânicas desta quinta-feira, o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn poderá muito bem colocar esta questão para si mesmo, enquanto decide se os números que tem pela frente justificam abrir uma garrafa ou fechar um ciclo.

Quando as eleições deste 8 de junho foram convocadas, em meados de abril, o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn era dado como uma presa fácil. Com as sondagens a apontarem para uma vantagem de 20% do Partido Conservador sobre os trabalhistas, Theresa May parecia ter pela frente uma maioria robusta, à semelhança daquela que Margaret Thatcher obteve em 1983 quando, tal como em 2017, o Partido Trabalhista deu uma visível guinada à esquerda.

Mas, agora que são conhecidos os resultados, é fácil perceber que a história não é bem como Theresa May queria que ela fosse. De acordo com os números mais recentes da BBC, o Partido Conservador de Theresa May conta com 313 deputados — aquém da maioria absoluta, fixada nos 326 — e o Partido Trabalhista está com 260 parlamentares.

O que é para rir? O facto de os conservadores terem perdido a maioria absoluta será, certamente, motivo de regozijo trabalhista. Ainda para mais, uma demissão de Theresa May da liderança do seu partido, o que a levaria a não liderar o próximo governo, é agora uma possibilidade real. E a cereja no topo do bolo para Jeremy Corbyn é que ele atingiu um resultado acima daquele que Ed Miliband conseguiu em 2015, quando palavras como “socialismo” e “nacionalização” ainda eram palavrões num partido a ressacar do centrismo da Terceira Via.

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O que é para chorar? O facto incontestável de esta ser a terceira derrota consecutiva do Partido Trabalhista numas eleições gerais, que já não vence desde 2005. Além disso, há o dado que demonstra que, com 260 deputados (faltam apurar 7), este é o sexto pior resultado dos trabalhistas nas 20 eleições que aconteceram após a Segunda Guerra Mundial.

Corbyn pede para May sair… mas ele entra como?

Na noite eleitoral de 8 de junho — e já na madrugada de 9 de junho —, as declarações de Jeremy Corbyn demonstravam um homem muito mais predisposto a rir do que a chorar. “A política mudou e a política não vai voltar para dentro da caixa onde estava”, disse o líder trabalhista, a discursar no círculo eleitoral de Islington North, onde é eleito desde 1983. E, depois, pediu a Theresa May que se afastasse da via do poder.

“A primeira-ministra convocou as eleições porque queria um mandato”, disse. “Bom, o mandato que ela ganha é de perder deputados, de perder votos, de perder apoio, de perder confiança. Eu acho que isso seria suficiente para ela sair e dar espaço para um governo que é verdadeiramente representativo de todo o povo deste país.”

Jeremy Corbyn garantiu ainda: “Vamos assegurar-nos de que tudo o que incluímos no programa eleitoral seja apresentado ao parlamento e que este país se torne num sítio diferente e fundamentalmente melhor”.

Para que Theresa May se afaste, como Jeremy Corbyn lhe pede, é preciso que ele consiga reunir o apoio suficiente para formar Governo. Pelo que já tinha dado a entender na campanha eleitoral, a ideia não é formar nenhuma coligação. A ideia foi sublinhada por Emily Thornberry, trabalhista e ministra sombra dos Negócios Estrangeiros.

“Não há coligações, não há acordos. Ou os conservadores têm um governo minoritário, ou os trabalhistas têm um governo minoritário. Não vamos fazer uma coligação, não vamos fazer nenhum acordo, vamos apresentar um programa alternativo, a nossa visão alternativa para o Reino Unido”, disse à BBC.

Se quiser chegar a esse “programa alternativo”, o Partido Trabalhista terá de convencer, pelo menos, os Liberais Democratas (que também recusam qualquer tipo de coligação ou aliança), o SNP (os independentistas escoceses já demonstraram abertura para falar), os Verdes e ainda outros partidos de cariz nacional e esquerdistas que possam estar dispostos a conversar, como os galeses do Plaid Cymru.

Enquanto esta aritmética se forma, há quem pergunte, afinal, como é que se diz “geringonça” em inglês. A tradução mais correta é contraption, que segundo o dicionário de Oxford é sinónimo para “máquina ou aparelho que parece estranho e desnecessariamente complicado e muitas vezes mal feito ou pouco seguro”. Mas não é certo que, num futuro próximo, esta palavra entre no dicionário político britânico.