O chefe de Estado cabo-verdiano alertou esta sexta-feira para as “grandes precariedades” que ainda subsistem no abastecimento de água em Cabo Verde, onde 64,1% da população está ligada à rede pública e 25% tem acesso a saneamento.

A disponibilização de água de qualidade tem aumentado de forma regular, estando 64,1% da população, em 2016, ligada à rede pública de abastecimento de água. O grande avanço não significa que a batalha esteja definitivamente ganha. Continuamos a ser um país com grandes precariedades no abastecimento de água à população”, disse.

Jorge Carlos Fonseca falava esta sexta-feira, na cidade da Praia, na abertura de uma mesa-redonda com parceiros internacionais para a mobilização de recursos para o Fundo Rotativo de Água e Saneamento que o país quer criar.

Cabo Verde anunciou em janeiro a intenção de criar o Fundo Rotativo de Água e Saneamento, estimando precisar de mais de 600 milhões de euros nos próximos 20 anos para assegurar o acesso a água e saneamento à totalidade da população.

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Jorge Carlos Fonseca assinalou que nas áreas ligadas à rede pública, o abastecimento varia entre 40-60 litros/dia per capita e nas áreas servidas por chafarizes ou fontanários é de cerca de 10-20 litros/dia, “dados muito distantes dos 110 litros por dia per capita”, preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

No que se refere ao saneamento, os progressos são mais limitados. Apenas cerca de 25% da população se encontra ligada à rede de esgotos, enquanto aproximadamente 56% possui fossa sética. A recolha e o tratamento de resíduos sólidos ainda conhecem muitas limitações”, lembrou.

Sublinhou que devido à escassez das chuvas e à ausência de cursos de água permanentes, o país é cada vez mais obrigado “a socorrer-se da água do mar para produzir água potável”, dependendo atualmente o consumo doméstico de água em 80% da dessalinização.

As necessidades das pessoas são muito acentuadas e os desafios de grande envergadura”, disse Jorge Carlos Fonseca.

Considerou, por isso, que Cabo Verde “precisará da cooperação internacional para sanear o setor da água e saneamento“, sublinhando, em paralelo com a questão financeira, a importância da cooperação técnica e da troca de conhecimento, sobretudo no domínio da gestão da água.

O ministro da Agricultura e do Ambiente, Gilberto Silva, assinalou as necessidades financeiras de 634 milhões de euros em 20 anos, em média 31,7 milhões por ano, para que “todos os cabo-verdianos possam ter acesso a água e saneamento de forma condigna”, não pagando mais de 5% do rendimento.

O Fundo vai contribuir para a melhoria da governança da água e do saneamento em Cabo Verde“, disse Gilberto Silva, adiantando que foi já feita uma primeira contribuição de 4,5 milhões de euros por parte do Luxemburgo.

Estes recursos são muito importantes, mas não chegam e há necessidade ainda de fazer advocacia deste instrumento financeiro para que possamos de facto montar todo este mecanismo”, acrescentou.

Para o ministro esta mesa redonda é uma oportunidade de receber contribuições dos parceiros e financiadores, para ao longo de 2017, consolidar o processo de criação do Fundo Rotativo da Água e Saneamento.

A mesa redonda que esta sexta-feira decorre na cidade da Praia conta com representantes dos principais parceiros internacionais de Cabo Verde, incluindo Portugal, que está representado pelo secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins.