Como é que é não querer saber de nada e querer saber de tudo ao mesmo tempo? Tocar bateria como quem parte lenha porque importante mesmo é fazer fogo? Dar o corpo às balas, todas, de onde vêm, quantas são? Não ter medo de nada nem de ninguém?

Como é que é ser um mestre dominador da arte do hip hop mas querer dar-lhe a volta a todo e qualquer momento? Ser experimental porque não há outra palavra que o defina? Não parar, nunca parar, ter medo de parar, não saber parar, não conhecer sequer a palavra? Pegar alguém pelos colarinhos e não desistir antes de o fazer chorar, prender o osso, fechar todas as portas, acabar com o oxigénio?

Como é que é um filme de terror num palco e sem tela? Ser mau, mesmo mau? Ser bera, a dar para o horrível, mal educado? Não parar — já tínhamos perguntado isto, não? Dar um concerto sem dar folga para que ninguém pense se está a gostar ou não, se isto interessa ou não, se isto vale o bilhete ou não? Mas alguém questiona mesmo se isto vale o bilhete ou não?

Como é que é misturar palavras com sons impercetíveis? Esquecer o ritmo, voltar ao ritmo, partir o ritmo, perguntar “mas afinal o que é o ritmo”? Misturar heavy com thrash com death com industrial com tudo o que de pesado se pode imaginar? Atirar todas as luzes contra o público como quem diz “abram os olhos”?

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Como é que é destruir a estrutura habitual de uma canção porque habituais somos nós, eles não, não querem ser? Fazer a banda sonora de um filme em que o mundo está ameaçado e no fim estamos mesmo condenados, sem Ben Affleck ou Luke Skywalker que nos salve? Construir um exército a partir do palco?

Como é que é não deixar espaço para conversas de festival, congelar os cérebros, puxar “apenas” pelo corpo? Dizer “os vossos ouvidos são propriedade minha”? Como é que se chega à meia hora de concerto sem perceber como é que tudo isto aconteceu em apenas meia hora? Continuar, porque meia hora é pouco e há outra meia para por a arder? Surpreender só mais uma vez e conseguir atirar um pouco de groove de anca, só porque sim?

Como é que, ainda assim, se deixa a sensação de consciência tranquila, porque de alguma forma estivemos numa festa e fizemos o bem? Como? Sendo Death Grips. Simples.