Vinte anos. V-i-n-t-e a-n-o-s. Já lá vão duas décadas. O primeiro telemóvel com câmara fotográfica foi criado há 20 anos, a 11 de junho de 1997, pensado por um homem que estava a minutos de se tornar pai e queria muito partilhar a primeira fotografia da filha recém-nascida com os amigos. Nesse dia, o mundo dele (e o nosso) mudou para sempre.

A ideia nasceu da cabeça de Philippe Kahn, um engenheiro informático francês que entretanto se tornou um dos mais respeitados empresários da indústria tecnológica.

Em junho de 1997, o mundo ainda não tinha visto o filme Titanic (estreou em julho), os irmãos Hanson lideravam a tabela de singles da Billboard, com a música “MMMBop, e Mark Zuckerberg, só a título de curiosidade, tinha acabado de comemorar o seu 13º aniversário, num Bar Mitzvah temático inspirado no universo Star Wars. Ah, e a Internet como a conhecemos hoje dava apenas os primeiros passos, claro. Kahn, no entanto, já sonhava mais alto.

O programador já tinha criado um servidor onde guardava e partilhava imagens com os amigos, uma espécie de pré-Instagram muito arcaico. Na prática, os amigos recebiam uma notificação com um link da nova fotografia de Kahn, que depois podiam consultar na web. Mas havia um obstáculo: Philippe Kahn não tinha como carregar a imagem da câmara diretamente no servidor. Então, improvisou.

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Enquanto esperava pelo nascimento da filha — foram mais de 18 horas de parto, como conta a Time –, montou um sistema que ligava diretamente a sua câmara digital ao telemóvel através do sistema de auriculares e com a ajuda de um kit mãos-livres que tinha no carro — na altura, não era possível ligar os telemóveis aos computadores. Umas linhas de código depois, estava criado um software que permitia articular os três dispositivos — câmara, telemóvel e computador. Estava criado o primeiro protótipo daquilo que estaria na origem de uma das maiores revoluções tecnológicas da história da humanidade — e mesmo a tempo do nascimento da filha, Sophie, como testemunha a imagem que ilustra o artigo.

Não é de estranhar, por isso, que a Time tenha escolhido a fotografia de Sophie como uma das 100 imagens mais icónicas de sempre, ao lado de outras como o retrato de Che Guevara, o beijo entre o marinheiro e a namorada no dia em que a II Guerra Mundial terminou finalmente ou da fotografia do homem que se opôs ao avanço dos blindados um dia depois do Massacre de Tiananmen, na China.

E tudo poderia ter sido diferente. Depois de criar um protótipo, Kahn tentou convencer os presidentes executivos da Kodak e da Polaroid a criarem um telemóvel com uma câmara fotográfica integrada. Sem sucesso. Ambos estavam convencidos de que o futuro dos telemóveis passava pela chamadas de voz e que as câmaras fotográficas seguiriam o seu caminho no sentido de se tornarem mais digitais e sem fios. “Falharam completamente a mudança de paradigma”, chegou a dizer Kahn em entrevista. A Kodak e a Polaroid acabaram por falir.

Com as portas fechadas nos Estados Unidos, o programador tentou a sua sorte no Japão, onde as oportunidades também não abundavam. Acabou por ser a Sharp a dar-lhe a mão e apostar na tecnologia que criara. Em 2000, a empresa usava a ideia desenvolvida por Kahn para lançar o primeiro telemóvel com câmara integrada. O resto da história já nós conhecemos.