Ao início da tarde, a escola Gustav Courbet, em Gentilly, junto a Paris, registava uma fraca afluência às urnas, com uma “enorme diferença” em relação às presidenciais, de acordo com a presidente portuguesa de uma mesa de voto.

Sentada em frente à urna transparente, na mesa de voto número 5, Cristina Semblano tem repetido ao longo do dia a frase, em francês, “A voté” (“votou”), mas o número dos que votaram ficou muito aquém das últimas eleições de 23 de abril e 7 de maio.

“Há uma enorme diferença em relação às presidenciais porque as presidenciais são as eleições onde a taxa de participação é mais elevada em França. A taxa de participação nas presidenciais ronda os 80% enquanto a taxa de abstenção que se espera nestas eleições oscila entre 40 e 60%”, explicou.

A deputada municipal da cidade acrescentou que “a população francesa não considera estas eleições tão importantes como as presidenciais” por haver “um regime presidencialista em França”.

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E avançou que, “em França, as taxas de abstenção são maiores entre os jovens, entre os desempregados, entre os precários e entre os pobres”.

Depois de, nas presidenciais, ter apoiado A França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, na campanha para as legislativas Cristina Semblano apoiou “a esquerda da esquerda”, nomeadamente, candidatos do Partido Comunista Francês, e considera que “há uma parte crescente da população francesa que não acredita que a sua situação possa mudar através do voto”.

Para a economista, quem vai beneficiar com a taxa de abstenção é o movimento ‘A República em Marcha!’ do presidente Emmanuel Macron, exemplificando com o voto dos franceses no estrangeiro, ocorrido no fim de semana passado, em que os candidatos de Macron lideraram em 10 das 11 circunscrições, mas com uma taxa de participação de apenas 19%.

“O que eu temo é que a abstenção seja favorável ao partido do atual presidente da República”, indicou a portuguesa, apontando que a abstenção “é perigosa porque poderá levar a uma maioria absoluta” de um presidente que ela considera como o representante de “uma deriva autoritária”.

Ainda que presida a uma mesa de voto, mais uma vez, a portuguesa não pôde votar por não ter nacionalidade francesa, algo que lhe deixou “pena” e a motivou a tomar uma decisão.

“Cada vez que há eleições em França, tenho pena de não votar. Estou sempre a dizer que vou pedir a nacionalidade francesa mas é verdade que sou bastante antiburocrática. Mas, tenho a sensação que, pela primeira vez na vida, na altura destas presidenciais senti-me extremamente frustrada por não poder votar e estou quase decidida a pedir a nacionalidade francesa para poder votar”, indicou.

Apesar de “antiburocrática”, Cristina Semblano levantou-se às seis da manhã para preparar a sua mesa de voto, que declarou aberta às 08:00 (07:00 em Lisboa) e que vai encerrar às 20:00, como nas grandes cidades francesas, ainda que na maior parte das cidades as urnas encerrem às 18:00.

Para ela, o dia só vai acabar “pelas onze da noite” depois de proclamar os resultados da sua mesa de voto e de levar a urna para a câmara municipal, onde são centralizadas todas as urnas e proclamados os resultados das diferentes mesas de voto da cidade.

Cerca de 47 milhões de eleitores são chamados a votar para eleger 577 deputados para a Assembleia francesa e os candidatos que hoje não conseguirem ser eleitos com mais de 50% dos votos, passam à segunda volta, a 18 de junho, se tiverem tido, pelo menos, 12,5% dos votos dos eleitores inscritos.