O número de mortos está em seis. E poderá subir dramaticamente nas próximas horas: é que há dezenas de feridos, muitos deles em estado crítico. Mas também há histórias de sobrevivência a contar do incêndio que na madrugada desta quarta-feira destruiu completamente um prédio em Londres.

Entre labaredas nos pisos superiores, encurralados, muitos optaram por saltar da janela, mesmo sabendo que não sobreviveriam à queda.

Samira Lamrani não viu ninguém saltar para a morte certa. Mas escutou muitos e angustiados pedidos de ajuda. “Olhava para cima e, piso após piso, via um sem-número de pessoas a pedir ajuda, maioritariamente crianças – as suas vozes, estridentes, vão acompanhar-me durante muito tempo. Ouvia-os a gritar pelas suas vidas.” O que Samira viu foi o desespero de uma mãe que, impossibilitada de sair de casa devido ao fogo, atirou o filho, ainda bebé, do 10.º andar onde vivia. Quase miraculosamente, o bebé terá sobrevivido à queda. Ao The Guardian, Samira Lamrani explica porquê: “As pessoas estavam à janela, a bater e a gritar. Nós, cá em baixo, apenas lhes dizíamos que já tínhamos ligado para os bombeiros – mas é evidente que vislumbrava a morte no rosto delas. Foi então que vi uma mulher que se preparava para atirar o seu bebé e pedia que alguém cá em baixo o apanhasse. Alguém o fez: um homem correu para a frente e apanhou o bebé.”

A polícia não confirmou por enquanto a veracidade da história de Samira — uma história que entretanto foi replicada um pouco por toda a imprensa no Reino Unido.

Outra mulher, Zara, esta moradora no prédio que se incendiou, garante ter visto uma mulher a atirar o filho, “com perto de cinco anos”, do “quinto ou sexto piso” do edifício. À rádio LBC, Zara contaria: “Ela atirou realmente o filho da janela. Mas acho que ele está OK. É provável que tenha alguns ossos partidos e feridas, mas está OK.” Nem todos tiveram a mesma sorte que esta criança terá tido. Zara sabe-o. “Ouvi outra mulher a gritar: ‘O meu bebé, o meu bebé! Preciso de sair, preciso que salvem o meu bebé!’ Nós continuávamos a olhar para cima mas não podíamos fazer nada. Não havia nada que pudéssemos fazer para a ajudar”, contou à LBC. A mulher não saltou.

Joe viu um homem saltar e cair mesmo à sua frente. À BBC Radio London, descreveria assim a morte: “Vi gente a saltar. Vi um homem em particular a saltar, um homem que aterrou sobre um bombeiro. A perna dele ficou desmembrada.” E acrescentou: “Conversei com um bombeiro. Ele disse-me que, apesar de terem trabalhado a noite toda, não conseguiram passar do 11.º andar. A meu ver, toda a gente que vivia nos pisos de cima teve certamente muitas dificuldades em sair”.

Há uma criança de 12 anos que está desaparecida. Jessica Urbano estava no 20º andar quando foi separada da família, conta a BBC. Mais tarde falou com a mãe através do telemóvel de outra pessoa e disse-lhe que estava nas escadas do edifício, mas nunca mais a encontraram. A tia explicou à Press Association que há relatos de a terem visto numa das ambulâncias, mas nenhum hospital tem registo de a ter recebido. O prédio tinha 24 andares. O fogo não poupou nenhum piso.

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