“Churchill”

Um filme maçudo, repetitivo e prosaicamente televisivo do ponto de vista formal, mas acima de tudo historicamente fantasioso. Winston Churchill é mostrado como tendo-se oposto veementemente à Operação Overlord no Dia-D, seis de Junho de 1944, por ter medo de um falhanço colossal e sangrento e por lhe pesar ainda na consciência o desastre em que redundou o desembarque de Gallipoli, em 1915, durante a I Guerra Mundial, por ele sancionado quando era Primeiro Lorde do Almirantado. Isto quando, na realidade, Churchill não só apoiou Overlord sem reservas, como pretendia estar a bordo de um dos navios participantes na invasão, desembarcar em triunfo numa das praias da Normandia logo a seguir às tropas aliadas e depois regressar a Inglaterra. Só a intervenção pessoal do rei George VI o demoveu de tal intenção. Realizado pelo australiano Jonathan Teplitzky, “Churchill” passa-se ao longo dos últimos dias que antecederam o Dia-D e tem uma interpretação rebuscadamente melodramática de Brian Cox na figura de Winston Churchill. Mais uma vez, o cinema presta um mau serviço à História, tomando liberdades para lá do admissível com os factos.

“Girls Night”

Como se já não bastassem as comédias boçais sobre despedidas de solteiros, temos agora “Girls Night”, sobre uma despedida de solteira onde as mulheres se portam tão mal, ou ainda pior, do que os homens. Quatro melhores amigas da universidade juntam-se dez anos depois de acabarem o curso e rumam a Miami, para fazer a despedida de solteira de uma delas, a “certinha” Jess (Scarlett Johansson, como é que ela foi aqui parar?). Ao quarteto junta-se, vinda directamente do outro lado do mundo para a festa, e sob o efeito do “jet lag”, a melhor amiga australiana da noiva. A morte acidental de um “stripper” masculino, “esmagado” pela mais gorda e sexualmente carente do grupo, vai dar cabo do ambiente. Mas a comédia rasca continua, só que mais negra (há uma série de “gags” em redor da incapacidade das cinco em verem-se livres do corpo), até bater na subcave do mau gosto e da absoluta falta de graça. Ty Burrell, de “Uma Família Muito Moderna”, e Demi Moore, interpretam o casal tarado sexual da vivenda ao lado daquela onde estão as protagonistas. E as acusações de sexismo aqui não colhem, porque “Girls Night” é co-escrito e realizado por uma mulher, Lucia Aniello.

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“Micróbio e Gasolina”

O mais recente filme de Michel Gondry, “Micróbio e Gasolina”, rodado em França em 2015 e que chega a Portugal absurdamente atrasado, é o melhor que ele fez desde “Por Favor Rebobine” (2008), mesmo que mais calmo em termos de invenção visual e elaboração fantasiosa, duas qualidades que nos habituámos a associar ao autor de “Natureza Humana” e “O Despertar da Mente”. É um filme de adolescentes anti-filme de adolescentes americano, no sentido de que não tem drogas, sexo, bebedeiras, uma história primária e o tipo de comédia alarve que caracteriza estes. Micróbio e Gasolina moram em Versalhes, andam no mesmo liceu e são ambos “outsiders”. Micróbio (Ange Dargent) chama-se Daniel mas ganhou esta alcunha por ser pequeno demais para a sua idade, e costuma ser confundido com uma rapariga por causa do corte de cabelo. Gasolina (Théophile Baquet) chama-se Théophile mas o “Gasolina” pegou porque anda sempre a mexer em motores e “gadgets”. As aulas estão a acabar e o Verão está a chegar, e os dois amigos têm uma ideia brilhante. Construir um carro artesanal com um motor de corta-relvas e um esqueleto de uma cama, disfarçá-lo com a tosca estrutura de uma casa improvisada e partir estrada fora, sem dizer nada aos pais. “Micróbio e Gasolina” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.