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Morreu o antigo chanceler alemão Helmut Kohl, o arquiteto da reunificação alemã

Este artigo tem mais de 5 anos

Morreu aos 87 anos o antigo chanceler alemão Helmut Kohl, confirmou a CDU através do Twitter. Kohl morreu esta manhã na sua casa em Ludwigshafen.

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AFP/Getty Images

AFP/Getty Images

Morreu esta sexta-feira, aos 87 anos, o antigo chanceler alemão Helmut Kohl, confirmou a CDU — partido de que foi líder — através do Twitter, depois de a imprensa alemã ter avançado a notícia. De acordo com o jornal alemão Bild, que avançou a notícia, Kohl morreu esta manhã em sua casa, em Ludwigshafen, no estado de Rhineland-Palatinate. O antigo chanceler alemão tinha graves problemas de saúde há vários anos, e em 2008 uma queda numas escadas que lhe provocou um traumatismo cranioencefálico, deixara-o numa cadeira de rodas.

Helmut Kohl foi chanceler da Alemanha entre 1982 e 1998 — o mandato mais longo de um líder alemão desde Otto von Bismarck — e também um dos principais nomes da construção da União Europeia e da reunificação alemã. Foi Helmut Kohl quem liderou a reunificação da República Democrática Alemã (a Alemanha Oriental) e da República Federal Alemã (a Alemanha Ocidental), um processo que começou logo depois da queda do Muro de Berlim, quando Kohl, então chanceler da RFA, anunciou os seus objetivos para a cooperação entre as Alemanhas.

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Recordado pelos alemães como “chanceler da unidade”, Helmut Kohl nasceu a 3 de abril de 1930 em Ludwigshafen e a sua infância foi profundamente marcada pela II Guerra Mundial. Escreve a BBC que apenas com 12 anos Helmut Kohl foi forçado a ajudar a recuperar os cadáveres dos seus vizinhos dos destroços na sua localidade, que foi muito bombardeada durante o conflito.

Depois da guerra, Kohl estudou ciência política e direito em Heidelberg e veio a tornar-se, com apenas 39 anos, no líder do estado federado de Renânia-Palatinado — sendo o mais jovem líder de um estado na Alemanha. Depois, tornou-se presidente da União Democrata-Cristã (CDU) e o partido escolheu-o como candidato a chanceler para as eleições de 1976 — em que viria a ser derrotado por Helmut Schmidt, candidato social-democrata.

Apesar de as suas possibilidades de subir ao poder na Alemanha terem sido frequentemente desvalorizadas, Helmut Kohl chegou a chanceler em 1982, depois de se ter desfeito a coligação liderada por Helmut Schmidt no poder desde 1976. Foi a partir da década de 80 que se começaram a evidenciar as qualidades políticas de Kohl, que, juntamente com o presidente francês, o seu aliado François Mitterrand, começou a idealizar o aprofundamento da integração europeia e a criação da moeda única.

Ao mesmo tempo que se tornava numa das mais importantes figuras da integração europeia, Helmut Kohl começava a arquitetar também o seu plano para unir novamente as duas Alemanhas. Fundamental nesse processo foi a visita de Erich Honecker, líder da RDA, à Alemanha Ocidental, em 1987. A queda do Muro de Berlim em 1989 marcou o início das negociações para a reunificação alemã. Uma das grandes vitórias foi a negociação com o líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev: Kohl conseguiu persuadi-lo a desistir da Alemanha Oriental como reduto comunista e as tropas soviéticas acabaram por ser retiradas do país. Ao mesmo tempo, Kohl teve de garantir aos restantes líderes mundiais, incluindo ao presidente norte-americano George H. W. Bush, que uma Alemanha reunificada não seria um perigo para a estabilidade da Europa como fora a de Hitler.

Considerado um dos grandes líderes alemães (e europeus) do século XX — o antigo Presidente dos EUA, Bill Clinton, descreveu numa ocasião Kohl como “o mais importante estadista europeu desde a II Guerra Mundial” –, a reputação de Helmut Kohl acabou por ser manchada nos últimos anos. Depois das eleições de 1998, em que saiu derrotado e perdeu o lugar que detinha há 16 anos, foi descoberto que Helmut Kohl tinha recebido milhões de dólares em donativos secretos, escreve ainda a BBC. Mas as acusações de corrupção acabaram por não avançar, sobretudo devido à relevância de Kohl como arquiteto da reunificação alemã. Isso não o impediu de, em 2010, ano em que se juntou à chanceler Angela Merkel (de quem foi mentor) para as celebrações dos vinte anos da reunificação alemã, dizer que o seu papel no processo foi “subestimado durante décadas”.

Marcelo lembra “impulsionador da integração europeia”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou, em declarações à RTP, o antigo chanceler alemão como o “impulsionador da integração europeia” e o “pai” da reunificação alemão, recordando a sua amizade com Hemlut Kohl.

Em declarações aos jornalistas, no final de uma visita à associação Abraço, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda que teve oportunidade de o “conhecer muito bem pessoalmente”, quando liderou o PSD, que “foi admitido no Partido Popular Europeu (PPE) largamente pela mão de Helmut Kohl”, então chanceler e líder da União Democrata-Cristã (CDU). E falou cd “um homem invulgar” que “tinha tanta visão de futuro quanta determinação e persistência”, e contribuiu para haver uma “Europa unida e forte”.

O Presidente da República elogiou a determinação de Kohl no processo difícil de reunificação da Alemanha – “quando ele avançou para a reunificação das duas Alemanhas, foi considerado quase louco” – e lembrou a contestação à decisão de “parificar a moeda alemã Ocidental e de Leste”.

Marcelo Rebelo de Sousa salientou também que Helmut Kohl “liderou com Mitterrand a Europa num momento crucial, o da aprovação do euro, da moeda única”, considerando: “Tinha tanta visão de futuro quanta determinação e persistência. Era verdadeiramente uma pessoa de uma persistência indomável”.

“Portanto, guardo dele, além de uma imagem pessoal de grande amizade, uma imagem de grande admiração, porque num momento crucial foi ele a dar o passo essencial para a Europa que temos, a Europa unida e forte que foi possível depois da reunificação alemã”, afirmou.

Costa lamenta morte de “grande arquitecto da integração europeia e da reunificação alemã”

O primeiro-ministro português, António Costa, reagiu à morte de Helmut Kohl no Twitter, em português e em inglês, lamentando a morte de “um Cidadão Honorário da Europa, grande arquitecto da integração europeia e da reunificação alemã”.

Cavaco fala num dos maiores estadistas do séc. XX

Já o ex-Presidente da República, Cavaco Silva, recordou o antigo chanceler alemão Helmut Kohl como “o grande estadista do século XX”, esperando que políticos europeus estejam à altura do seu legado e saibam honrar a sua memória.

“Choramos hoje o desaparecimento de um dos maiores estadistas mundiais do século XX. Um homem notável e um dos maiores políticos que conheci durante a minha carreira de primeiro-ministro”, disse Aníbal Cavaco Silva numa declaração aos jornalistas no Convento do Sacramento (Lisboa), o gabinete de trabalho que ocupa desde que deixou a Presidência da República.

O antigo chefe de Estado – que recordou que nos 10 anos enquanto primeiro-ministro participou em 29 cimeiras europeias com “o grande estadista do século XX” – defendeu ser preciso que, nos tempos que correm, “os políticos europeus recordem Helmut, tudo aquilo que ele fez e saibam honrar a sua memória”.

“É isso que eu continuarei a fazer”, garantiu.

Juncker diz que perdeu um “mentor” e um “amigo”

Já o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, publicou um comunicado em que lamenta “a morte do Helmut”, “meu mentor, meu amigo, a essência da Europa”, garantindo que a Europa sentirá a falta do antigo líder alemão.

Passos Coelho recorda “grande estadista da Europa do pós-II Guerra Mundial”

O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, também reagiu à morte do antigo líder alemão, considerando-o “um grande estadista da Europa do pós-II Guerra Mundial”.

“Kohl não foi muito estimado pelas elites talvez porque tivesse sido sempre fiel às suas raízes populares, desde que ajudou a fundar a juventude partidária da Democracia Cristã. Recusou-se sempre ser uma criatura do marketing político ou da propaganda vulgar populista. O povo alemão recompensou-o com a maior longevidade política da história democrática da Alemanha. Nunca vacilaria nos seus valores políticos, nem nunca se equivocou com o perigo e perversidade dos totalitarismos. Foi o grande maestro da reunificação alemã, não obstante todos aqueles que o quiseram convencer da indesejabilidade ou até da impossibilidade da tarefa. O sucesso de hoje da integração da Alemanha de Leste na RFA foi antecipado por ele, mas não por muitos dos seus contemporâneos dentro e fora da Alemanha”, afirma ainda Passos Coelho.

O líder do PSD recorda ainda Kohl como “um dos refundadores da Europa”, que, “juntamente com a França, com quem aprofundou notavelmente os laços, com particular simbolismo no encontro de Verdun com o Presidente francês de então, François Mitterrand, Kohl foi o refundador de Maastricht e do Euro e da preparação para a adesão das jovens democracias do leste europeu. Dificilmente poderíamos encontrar legado mais profundo”.

“Como Portugueses e Europeus, prestamos as nossas condolências à família de Helmut Kohl, à CDU e a todo o povo Alemão pela perda sofrida hoje. Mas, como Portugueses e Europeus, prestamos igualmente a nossa homenagem ao estadista admirável que hoje partiu”, concluiu.

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