Testemunho de uma mulher à SIC Notícias, em Pedrógão Grande:

“Fugimos para Vila Facaia, foi onde conseguimos ficar, ao pé das escolas e do jardim e porque havia água. O meu marido foi o último a sair de casa com o trator, depois disso a casa ardeu. Ainda ninguém nos ofereceu ajuda, estou a sobreviver graças à minha irmã, cuja casa escapou. Não tenho ideia de como vai ser o futuro, estou partida de pernas e braços. Não tenho nada.”

Testemunho de uma mulher à RTP Informação, em Pedrógão Grande:

“Se o inferno é isto, nós vivemos o inferno aqui.”

Testemunho de um homem à TVI, em Pedrógão Grande:

“Consegui dar a volta e não se pegou fogo no meu carro. Fomos para uma zona já queimada, aí ficamos, mal e a respirar fundo, mas estávamos seguros.”

Testemunho de um homem à TVI, em Pedrógão Grande:

“Fixei as mãos no volante e seja o que deus quiser. Bati no rail, o carro foi abaixo duas ou três vezes… A seguir arranquei e consegui escapar.”

Testemunho de um homem à SIC Notícias, em Pedrógão Grande:

“Tenho um filho que era uma jóia de pessoa e não sei onde é que ele está. Uma está em Coimbra, está toda queimadinha, esteve aqui à espera do 112 e teve de ser um particular a levá-la. E o meu cunhado está ali. Ardeu tudo.”

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Testemunho de uma mulher às TVs, no IC8:

“O cenário é de horror, não tem explicação. Era um inferno. Acho que se via ali o fim do mundo. Eu disse que não escapava dali porque o lume agarrou-se ao cabelo, à roupa, eu fazia de tudo e era uma aflição de morrer. Não tem descrição o que a gente passou ali. Eu e o meu marido. Ele graças a deus só se queimou um bocadinho num braço, eu é que me queimei mais conforme o lume veio e me apanhou o peito. O lume estava nos pinheiros, os pinheiros caiam em cima dos carros, o lume vinha de todo o lado, de trás, da frente, não havia sítio que não tivesse lume.

Eu vim para aqui porque não sabia que esta estrada estava em perigo, porque como eles nos mandaram seguir para cima, pensamos vir por esta e cortar para ajudar as minhas filhas e a minha família. Chegamos aqui e não se via nada nada nada na estrada, foi horrível. O carro está aqui queimado.

Os senhores que nos bateram no carro por trás ficaram lá. Esses não se salvaram porque a senhora não saiu de dentro do carro. Eu gritei para ela sair mas ela não saiu. O senhor ainda saiu mas não se afastou do carro e morreu ali. Nesta estrada era um horror de pessoas a baterem [de carro] umas nas outras, um autotanque dos bombeiros a arder, era horrível. Não tem descrição.”

Testemunho de uma mulher à CMTV, em Pedrógão Grande:

“Temos uma cunhada e um sobrinho desaparecido, e tenho um primo desaparecido também que não sabemos… Não sabemos… Já está confirmado em como foram eles… O meu marido e o meu filho estiveram debaixo de lume em casa, não tiveram ninguém que os ajudasse, eu vim-me embora, deixei lá o meu marido e o meu filho, não sei nada deles.”

Testemunho de um homem à agência Lusa, no Hospital de Avelar, no concelho de Ansião:

“As labaredas batiam muito forte na carrinha, ainda fui contra um pinheiro e andei por valetas. A minha casa ardeu toda, ficou tudo queimado, fiquei sem nada. Temi pela vida de nós todos, pensei que ficávamos lá todos.”

Testemunho de uma mulher ao Jornal de Notícias, na aldeia de Nodeirinho:

“O meu marido dizia para pôr a minha mãe na carrinha, mas como ela não conseguia subir, porque anda de andarilho, ela disse-nos para a deixarmos no chão a morrer. Metemo-la no tanque. A temperatura era de tal ordem que nos enfiamos todos no tanque, um moço já tinha os braços a ardem e nós punhamos água, água, para cima uns dos outros. Se não fosse o tanque morríamos todos. O vento era de tal ordem, só ouvíamos estrondos por causa das chapas das coberturas que iam pelos ares.”

Testemunho de um inglês que vive na zona centro do país há quatro anos, à BBC:

“Estavamos a regressar de umas férias em Cádis, Espanha, a 50 minutos de carro de casa – já sabíamos dos incêndios há umas horas, conseguíamos ver a cortina de fumo. (…) Ficámos encurraládos numa aldeia chamada Mó Grande, mesmo à saída da IC8. Nós e outros fomos encaminhados para lá por um agente. A certa altura chegamos a uma pequena povoação, numa encruzilhada de fogo. Os locais e nós estávamos a chorar, assustados com o calor e a velocidade do fogo. Estava tudo tão negro por causa das chamas.

Um homem gritou-nos para que nos refugiássemos na sua casa, junto com a sua mãe. Vários de nós fomos. A mãe dele tinha um anexo no piso debaixo, onde estava mais fresco e protegido do fogo. Durante aquele período, mais pessoas foram chegando, batiam à porta e juntavam-se onde havia sinais de vida.

Quando cheguei à aldeia, mandei uma mensagem aos meus pais que dizia: ‘Estou numa aldeia, há fogo por todo o lado, é o fim. Mas quando cheguei à casa, não havia rede e pensei: ‘A última coisa que disse aos meus pais foi que estava a morrer.’ A energia foi abaixo e as chamas estavam fortes. Vimos um furacão vermelho a passar pelas janelas. Agachámo-nos no chão durante cerca de uma hora, a tentar respirar, enquanto rezávamos e chorávamos. (…) Não queria acreditar no que estava a ver. Quando o fogo passou, deveria estar tudo claro, mas estava escuro. Havia um filme estranho diante dos olhos de todos.

Se aquelas pessoas não tivessem sido tão generosas, nós não estaríamos aqui hoje. Têm havido muitos exemplos de atos incríveis de humanidade. Eu agradeci-lhes por terem salvo a minha vida. Mas um pequeno ‘obrigado’ não está sequer perto de ser suficiente. Podíamos ter morrido. Devíamos ter morrido. Na noite passada, um ato aleatório de bondade salvou as nossas vidas e agora tudo o que podemos fazer é rezar por Portugal.”

Testemunho de uma mulher à TVI, em Pedrógão Grande:

“Não víamos nada à frente, o meu filho batia num rail do lado e do outro, em todo o lado tudo em chamas.”

Testemunho de um homem à TVI, em Figueiró dos Vinhos:

“Foi uma noite horrível. Eu aqui a seis quilómetros de Figueiró não tivemos um bombeiro, não tivemos nada ao pé das casas. Já tenho visto por aqui muitos fogos também grandes, para onde foram os bombeiros? Nem um bombeiro nos apareceu.”

Testemunho de um homem à TVI, em Figueiró dos Vinhos:

“Nem um único carro dos bombeiros nos acudiu. Estivemos duas horas à espera do Valongo dentro a aldeia. O fogo bateu na casa das pessoas, é lamentável. Gostava de saber onde é que anda o sr. presidente da República, que se deixe de bailados e fantochadas e que venha ver a realidade de Portugal. A realidade não é a política em Lisboa.”

Testemunho de um homem à TVI, em Pedrógão Grande:

“A família está toda aqui, é o que interessa. A casa a gente não sabe o que é que lá está. Estou é triste com o que aconteceu. No ano passado notava-se que os meios aéreos foram mais rápidos, hoje só se viu um helicóptero.”

Testemunho de Andreia Novo, jornalista da RTP:

“Sinto necessidade de vos contar o que eu e o Rui Castro vimos, sentimos. Saímos às 2h de Gaia, chegamos às 4h a Pedrogão. Os acessos estavam todos cortados. Percorremos centenas de quilómetros e não havia sinal de bombeiros. As pessoas estavam todas na rua. Todas. Só depois das 5h é que conseguimos andar por estradas que ainda não estavam interditas, mas com fogo por todos os lados. Conseguimos passar.

Às 6h começamos a encontrar os primeiros carros incendiados. Uns atrás dos outros. Desfeitos. 6h30, já com luz do dia, descobrimos umas aldeias no meio do fumo que cega de tão denso. Começam a surgir os corpos. Não consigo descrever bem, a partir daqui, o que aconteceu. Uns atrás dos outros. Famílias inteiras no chão, carbonizadas, e não dentro dos carros como alguns jornalistas têm avançado. Casas completamente destruídas pelas chamas. “São imensos menina, mas não podemos apanhá-los, não temos autorização” disse-me um bombeiro quando lhe perguntei pelos corpos.

Falei com moradores de duas aldeias com cerca de 80/100 habitantes que já não diziam coisa, com coisa. Só falavam nas pessoas desaparecidas. “Isto é o inferno na terra, meu amor” disse-me uma idosa em lágrimas. Certo é que os bombeiros nunca lá foram até agora. Muitos dos que morreram são locais, fugiam de carro quando se despistaram, explodiram, ou simplesmente sufocaram. Nunca vi nada assim. E assim, só nós RTP captamos isto.”